quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Lisboa desconhecida

Passear por Lisboa e não ver prédios, nem carros, nem pessoas. Pelo menos a uma distância superior a 10 metros. Passear por uma Lisboa diferente, de noite, com nevoeiro. Com luzes diferentes, sombras diferentes, e lembrar-me do que esta cidade é para mim. Já não me deslumbrava com Ela há tanto tempo. Já não me surpreendia há tanto tempo. Habituei-me a Ela, aos seus prédios, seus carros, suas estradas. Mas de noite, com nevoeiro, foi uma Lisboa diferente.
Passar pelo Rossio e parecer uma praça deserta, habitada unicamente por aquelas esculturas iluminadas por uma luz que corta a neblina. Aquelas esculturas que vi quase há um ano atrás na outra ponta da Península Ibérica, agora estão aqui e tornam-se Lisboa. São tudo o que o nevoeiro permite ver. E o que é Lisboa, deixa de o ser, o Rossio não é o Rossio, é só um sítio por onde passei nesta noite sem lugares conhecidos. São só as estátuas que me fizeram recordar outra cidade, outro mundo, outro tempo.
Chegar aos Restauradores com uma luz cor-de-laranja, uma mistura do amarelo dos candeeiros de rua e das luzes vermelhas dos carros, que permite ver apenas os edifícios imponentes. E subir a Av. da Liverdade rodeada por árvores despidas, num cenário tirado dum filme de terror antigo. No cimo, um Marquês que não sei se lá está ou se decidiu ir passear por esta cidade desconhecida.
Imaginar que tudo mudou, percorrer as mesmas ruas de sempre, mas com a dúvida de que se mantêm onde estavam nessa manhã ou se o nevoeiro deixou que as ruas mudassem de lugar, brincassem ás escondidas com os condutores, fossem namorar para outras colinas. Não saber se no local da Praça de Espanha não está a Praça de Londres, ou qualquer outra cidade ou país. Lisboa envergonhou-se, escondeu as suas vergonhas e só deixou aparecer a sua luz.

terça-feira, 27 de novembro de 2007










Paris, com as loucas...






Dementes, completamente passadas, as maiores mitras! Eu e a Flores, claro. Nada dessas meninas de Gisela Gomes e Cátia Marques, as vergonhas de Massamá e Cacém. Bilhetes comprados há mais de dois meses, numa altura em que não sabíamos se teríamos exames, testes, estágio. Á medida que o dia se aproximava eu não sabia se podia, a Nani não sabia se podia, o Ricardo não sabia se podia. Eu acabei por poder, no lugar da Nani foi a Cátia e fomos sem um homem que pusesse freio neste mulherio todo.

Et voilá, Paris.

Greve de transportes, apanhámos um táxi com o chinoca mais castiço até á Cité Universitaire, residência portuguesa André de Gouveia (quem?), o edifício mais chunga entre mansões e obras de arquitectura. Entrámos por ali como se fossemos da casa, fomos logo topadas pelo Zé Maria
-"amigas da Carolina!!!"
e subimos para fazer a surpresa, que não resultou tão bem porque íamos no início do corredor e já a Carolina saia porta fora, segura que aquele chinfrim só podia partir de nós. Pousámos as malas, almoçámos um belo dum esparguete á bolonhesa e partimos para o Arco do Triunfo por les Champs Elysées (onde comemos um pain au chocolat e não parávamos de cantar:
- "Oh Champs Elysées, oh champs Elysées)
e para o Musée du Louvre, espreitar a Mona Lisa (ou Mini Lisa.... oh! a desilusão) e a Vénus de Milo. Jantámos em casa, numa cozinha cheia de gente, animação e vinho. Fomos arranjar-nos para o quarto (com o vinho atrás) e sair para a Favela Chic (não recomendo as Pinas Coladas! De todo!!), onde passámos a noite com o Lula. Muita dança, muito flash (que, veio-se a revelar, não era para nós).
Alvorada no dia seguinte tarde e a más horas, com líquido do pecado a correr ainda no corpo de algumas. Tomámos o pequeno-almoço, atacámos o Nestum Mel encomendado especialmente (Ups! Grande ideia!!), e ála para a "Feira das Pulgas", ou nossa Feira da Ladra, mas em Paris mais cara do que a Luis Vitton cá, passo o exagero. Mas comprei um belo chapéu cor-de-rosa, très parisien.









Sim, é o meu chapéu novo. Única compra parisiene. Ladrões!! Chupistas!!!

(Somos tão lindas!!!!)



Depois do maior fiasco do fim-de-semana, o melhor: a Notre-Damme, vista e visitada de noite, com frio, agasalhadas, lua cheia acompanhada por algumas nuvens, o ambiente perfeito para aquele cenário lindo. E aquele segredo de Paris, a livraria Shakespeare & Co, pequenina, velha, modesta, única. Com camas entre os livros, com cheiro a velho, a pessoas, a histórias. É difícil acreditar que sobreviveu aos nossos dias, ao consumismo desmedido, á produção em massa, ás grandes superficies, ao facilitismo, á padronização. Um sítio mágico.
Decidimos jantar em casa, deixar o jantar fora para a última noite e passámos pelo supermercado para fazer as compras. Mas o Zé Maria e o João insistiram que fossemos jantar fora a um restaurante de fondue que conheciam e mesmo sabendo que não íamos ser atendidos, lá fomos. Claro que não fomos atendidos. Mas em frente estava um italiano mínimo e vazio e acabou por ser o sítio perfeito para jantarmos umas belas Gynas quentinhas, acompanhadas de shots de água. Passeámos perto do Moulin Rouge, tirámos fotos catitas e fomos para casa dormir, recuperar.
Acordámos cedinho, tomámos o pequeno-almoço e saímos para a Notre-Damme, ponto de partida do percurso. Passeámos ao lado do Sena (que cidade maravilhosa.... que ambiente romântico), passeámos, apenas. E foi óptimo. Almoçámos umas baguettes de partir dentes ao lado do panteão e depois passeámos mais um bocadinho, nos jardins do Luxemburgo. Daí, a pé até á Torre Eiffel, que subimos de escadas até ao 2º andar. Foi o ponto alto da viagem, para mim. A única coisa em Paris que ainda não tinha feito. Vale a pena! Principalmente num fim-de-tarde lindo e início de noite. Paris, a Cidade Luz.
Jantámos na residência e acabámos o serão e o fim-de-semana com o filme
Paris, Je t'aime.








segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Clichés


As coisas acontecem quando menos se espera,

e, ás vezes, a inspiração vem de repente. Vem de uma conversa tranquila de 2ª feira de manhã em que só se trocam novidades de fim-de-semana. Mas apercebemo-nos que não são só novidades de fim-de-semana, mas uma maneira diferente de ver a vida. E, embora seja um cliché que até uso muitas vezes, nunca lhe tinha dado tanto valor. Era só um chavão para terminar uma frase ou uma desculpa usada quando algo não teve o resultado esperado. Mas,

as coisas acontecem (mesmo) quando menos se espera, quando não as procuramos, não nos preparamos. Não temos tempo para criar defesas, para
- ("E se.."),
porque vêm do desconhecido e envolvem-nos completamente, levando-nos para um lugar novo, um lugar-incomum, longe das banalidades a que estamos habituados, dos argumentos empregues que nos convencem que

- "está tudo bem",

- "é mesmo assim",
dos truques, artimanhas, planos usados frequentemente para dar a volta a uma situação que não controlamos.
A minha envolvente mudou e os "Déja-vus" tornaram-se "Clichés". Já não estou só do lado de fora a ver as mesmas cenas repetirem-se uma vez atrás da outra, já não sou uma mera observadora. Sou um cliché, mas um bom cliché. Não daqueles vazios e sem sentido. E vejo mais clichés felizes da vida e apaixonados á minha volta, daqueles clichés que se sentem deslumbrados pelo inesperado. Porque (e como a Anatomia de Grey uma vez disse) é o inesperado que muda a nossa vida, que dá a volta ao nosso mundo.
Não é suposto ter que lutar por certas coisas, não é suposto ter que conquistar, ter que criar estratégias, demorar X tempo a responder a uma mensagem, ou responder um ausente

- "Pode ser.."

a um convite, quando só apetece gritar
- "SIM!"
É suposto ser natural, genuíno e tomar-nos plenamente, deitando por terra as defesas de outrora. Simplesmente, acontece. E depois do remoinho de emoções, de virar a nossa vida de pernas para o ar, paramos e pensamos
- "É mesmo isto!".




segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Resumindo e começando...

Entre triagem curricular, marcação de entrevistas, actualização da base de dados, impressão de cartas, arquivos, tento actualizar os últimos tempos. Lá fora, ao fundo, vejo o recorte da costa, vejo um céu pouco nublado e um sol que ainda pede praia. Mas o meu verão já acabou há quase um mês.
Faz hoje 4 semanas que comecei a estagiar. Parece menos. As 9 horas diárias aqui passadas todos os dias não custam a fazer e não é com esforço que saio da cama. Curiosamente, é também sem esforço que, 3 vezes por semana, saio daqui para ainda ter aulas, quando em anos passados acordar para ir para o ISPA era um sacrificio que muitas vezes aceitava não fazer.
Contemplo as recentes mudanças e gosto. Gosto de estar a trabalhar, de me sentir capaz, útil, de sentir que estão a apostar em mim (ainda que o trabalho seja pouco interessante). Gosto que seja temporário, que daqui a dois meses acabe e me esteja a ajudar a compreender o que não quero fazer para o resto da vida. Gosto de me sentir motivada por mim mesma, sem recompensas exteriores, apenas pessoais que tento aproveitar e encarar da melhor maneira.
Gosto de chegar ás aulas e ainda ter energia. De participar, querer dar o meu melhor e, acima de tudo, gosto que seja o último ano. Não que não tenha sido bom, que não goste do meu curso, da minha universidade, mas anseio por outros mundos, outras descobertas. Vejo tantas oportunidades, tantos sítios, que sinto-me limitada, aqui, constangida. Não sei o que o futuro me reserva, que voltas hei-de dar á vida e ela a mim, e isso não me assusta (o tempo todo..). Não me sinto a acabar o curso, mas a começar algo novo. E gosto.
P.S. - Apaixonei-me.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Freedom

Quem diria que um dia iria estar a reportar uma experiência de vida ao som de música trance, mas a escrita deste texto não podia ter outra banda sonora. Instantaneamente sinto os pêlos a arrepiar, borboletas lindas e fluorescentes a levantar voo dentro do meu estômago e a percorrer-me o corpo todo, os braços a moverem com despreocupação, o peito a palpitar, os pés a quererem sair do chão com destino para parte incerta, a cabeça a esvaziar, a focar-se no essencial.
Cedi á "chantagem emocional" do Javier e aceitei (bastante apreensiva) ir ao Freedom - festival de trance que se realiza em Portugal de dois em dois anos. Dia 15 de Agosto parti de Lisboa ás 14h com a Teresa e o Javi, com o carro cheio de comida, tendas e todas as coisas indispensáveis para acampar num festival. O destino: Elvas. Por volta das 17h chegámos e fechámos alguns dos espaços ainda abertos dum acampamento montado no dia anterior por quem nos antecedeu.
A música, que devia ter começado ás 20h, só começou muito mais tarde e os três novatos limitaram-se, nessa noite, a passear até á pista, onde as luzes negras e as faixas de luz verde libertavam cores fluorescentes. Dormiu-se cedo, exigência de acordar no dia seguinte ás 6:30h, eu preparada para perceber como iam ser os meus próximos dias: passados á beira de água a torrar, ou a dançar até não aguentar mais. Conclusão: "Bora p'á pista!!!!!!".
O programa foi todos os dias, basicamente, o mesmo. Acordava-se cedo para sair da tenda adivinhando a frescura e humidade matinal (ás vezes quase madrugal) e tomar um pequeno-almoço modesto. Á chegada da pista, sempre carregados com um garrafão e um borrifador, a primeira coisa era tirar os chinelos e sentir a terra, ainda gelada, debaixo dos pés. Uma enchente de energia percorria-me imediatamente, de proximidade com uma parte de mim ainda desconhecida mas que se foi tornando mais presente ao longo dos dias. Um Eu mais em contacto com a natureza, com a Terra. As manhãs eram passadas a dançar, com um ou outro mergulho ocasional e vários duches para refrescar do calor que se impunha á medida que o sol ficava mais alto e as cores mais claras e nítidas.
Passadas largas horas, que não se faziam notar, e, com algum esforço, abandonava a pista temporariamente para ir comer qualquer coisa, sentindo, a cada dia que passava, uma sensação de que me alimentava apenas de música e da força que sentia ao dançar e na presença de todas aquelas pessoas. Olhava para o lado e via centenas de pessoas a dançar e a sorrir, a aproveitar a música, a convivência, sentindo uma corrente de energia, como se estivéssemos todos ligados, a dar e a receber boas vibrações. Depois do almoço, voltava para a música, até começarmos a abandonar a pista aos poucos, ao final da tarde. Tomava um banho gelado, jantávamos e íamos para a tenda, dormir quase com as galinhas, preparar-nos para mais um dia.
Vi coisas que nunca tinha visto. Coisas que estavam enquadradas naquele contexto e, por isso, não me chocaram apesar da sua violência, que me pareceram naturais. Aceitei-as sem julgamentos, sem moralismos. Apercebi-me que existe quem escolha um percurso de vida completamente diferente daquele que, eu prevejo, seja o meu, quem viva numa realidade que não toca levemente na minha, porém tem gostos, desgostos, prazeres, desprazeres, amizades, amores, sentimentos, emoções, como eu. Gosto da variedade. Gosto de saber que o mundo é composto por entidades tão distintas, opostas, únicas, contudo conseguimos sempre encontrar um qualquer ponto de encontro, se estivermos dispostos a procurá-lo, se estivermos abertos a esta diversidade e a encararmos como algo positivo, algo com o qual podemos aprender um pouco mais sobre os outros e sobre nós mesmos.
Fiz coisas que nunca tinha feito. Coisas que também tiveram o seu contexto e das quais não me arrependo por saber que as aproveitei para me conhecer um pouco mais, para fortificar certezas ou abalar falácias. Essencialmente, tiveram a companhia certa: um grupo com o qual tenho visto tanto de coisas novas, que é tão diferente dos meus grupos de amigos e (talvez nem tanto) de mim, onde são todos tão diferentes, cada um com o seu sorriso, com o seu olhar, com a sua gargalhada, a sua maneira de ser. Uns mais reservados, mais distantes, outros mais dados, mais próximos, mas todos me fizeram sentir bem-vinda.
Foi a experiência mais importante daquele que já considero o melhor Verão de sempre. Posso afirmar, sem reservas: apaixonei-me pelo trance.

sábado, 15 de setembro de 2007

Um

Faz hoje um ano, que fui para Barcelona fazer Erasmus. Gradualmente, perco motivos para escrever sobre isto. Aos poucos voltei á minha vida, que já não é a mesma e nunca mais será. Fui apanhando fragmentos de mim e reconstruí-me. O núcleo é o mesmo, eu sou a mesma, só mais completa, mais Eu.
Olho para fotografias minhas do Antes e Depois e vejo os traços desta experiência marcados na minha expressão: as novas amizades com pessoas tão diferentes, a coragem de ter arriscado, o orgulho de ter conseguido, ter feito parte de uma "família" com a qual aprendi e cresci, as gargalhadas, o rasto subtil das poucas lágrimas, a agitação de emoções que me acompanhou, o que perdi que nunca mais terei, os pequenos passos e os saltos gigantes, o conhecimento que ganhei sobre mim, sobre o que quero, o que penso, o que sinto.
Olho para o meu Antes e uma parte de mim sorri a chorar:
- Perdi a inocência.
Já não acredito ingenuamente e
- porque sim!,
em certas coisas. Mas acredito. Acredito activamente, acredito com tudo o que sou. Agora dou toda de mim, não vivo por metades, por receios, por defesas. Perdi alguns pilares, deitei-os abaixo e reconstruí-os á minha maneira. O tempo (ou a passagem dele) já não me assusta porque sei que este é meu para fazer dele o que quiser. Para ter ideias, fazer planos, propôr-me objectivos, para conquistar, para falhar. Ao menos tentei. São as minhas falhas, os meus bocadinhos.
Olho para o meu Depois e rio:
- Perdi a inocência, mas ganhei(-me) tanto!

sábado, 4 de agosto de 2007

Destino: Barcelona

Bitter-sweet emotions de um regresso a uma casa vazia, que guarda tantas boas recordações mas que sinto como fria. A mesma luz da última vez que andei neste comboio, um caminho que percorri tantas vezes, sozinha, acompanhada, agora vejo-o tão diferente, como se já não fosse o mesmo, aquele que conto ter feito pelo menos 14 vezes, levando ou apanhando visitas tão especiais.

Depois de largar as malas em casa do Javi, o 1º destino é Parc Guell, mas um Parc Guell que eu nunca tinha conhecido, por caminhos no meio do mato, longe dos turistas. Daí voltamos para casa, onde a Ana e o Fábio já nos esperavam. Já não têm conta as vezes que estive com o Javier, a Ana ou o Fábio em Barcelona, mas esta não se assemelhou com nenhuma. Eles são os resistentes, os que ficaram a guardar a casa, a esperar-nos de braços abertos. Não é Erasmus, agora sou uma visita.

O dia passado juntas, só as duas, em PortAventura ajudou-nos a esquecer onde estávamos, a esquecer tudo o que já aconteceu nesta cidade, a esquecer que estamos longe de todas as pessoas que a marcaram, que a fizeram. A sintonia entre as duas sente-se sempre: nos receios de vir a Barcelona, nos nós no estômago, nas recordações, nos momentos de cansaço, de "me aburro...", de "puta da loucura", de momentos kodak, de gargalhadas, e, against all odds, tivemos um super dia, passado em montanhas russas, em loopings, em Dragon Khans, em filas ao sol para descer 100m em 3s, em que a minha única reacção foi um tímido "foda-se" antes da descida.
De volta a Barcelona, o mesmo aperto, a mesma busca do sentido de estar de volta aqui. Mas nada que um jogo do "Eu nunca" com o Javier e a Teresa não resolva. Á porta de casa, um sofá abandonado que levamos para perto da paragem e no qual nos sentamos como VIP's á espera do autocarro que, claro, perdemos porque estávamos entretidos a sacar fotos. Apanhamos um taxi, juntamente com um alemão que também esperava o NitBus e que teve a viagem de taxi da vida dele! Li pânico nos seus olhos enquanto perguntava ao taxista quanto tempo faltava até à Plaça Catalunya. Encontramo-nos com o Fábio e a Ana á porta do Hard Rock e estamos prontos para sair, como saimos sempre em Barcelona: caminhar pelas Ramblas sem destino. "Pasa nada!"
No dia seguinte almoçamos com a Ana e o Javier, seguimos para as Ramblas já sem a Ana e daí para casa. Dança-se como loucas, canta-se, salta-se, joga-se futebol, tiram-se fotografias, fazem-se os filmes mais crazy, somos crianças. Sem preocupações. Saímos. Nas Ramblas, já com o Fábio, encontramos uma cadeira de rodas partida para a qual eu e o Javier prontamente subimos, cada um sentado num braço, até sermos perseguidos pela polícia. Despedimo-nos do Fábio, apanhamos o NitBus para casa...no sentido errado. Meia-hora depois apercebemo-nos disso, saímos do autocarro prontos para andar até casa. Na rua encontramos um carrinho de bebé estragado. Eu e a Teresa, empurradas á vez pelo Javi, fomos descendo uma rua enorme e inclinada, largando o carrinho ainda em pior estado. É incrível o que se encontra pelas ruas de Barcelona...até folhas de cortiça, que o Javier procurava há duas semanas em cada loja, ali estavam, deixadas nos chão, á nossa espera.



Barcelona continua a ser uma caixinha de surpresas, continua a surpreender-me. Reapaixonei-me por esta cidade que sempre me faz conhecer um bocadinho mais de mim, onde sempre faço coisas novas, onde exploro os meus limites. E que não seria nada sem as pessoas que a fazem de cada vez, que são quem cria os meus momentos..
Até breve, Barcelona.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Destino: Itália

Quando nao há palavras para descrever um sentimento, quando uma imagem vale mesmo mais do que mil palavras, ou frases, ou livros. Só temos aquelas pequenas expressoes tao espontâneas que marcam os momentos, que sao repetidas uma e outra vez e perdem o sentido quando ditas noutro contexto ou pela boca de outra pessoa. Seja um "quaaaaaanto manca?", um "Alfreeeeedo", um "per faviore".. Isso e as quase 1000 fotografias!!
Mais do que um país, mais do que todas as cidades que visitámos - Rimini, Ferrara, Veneza, Verona, Bréscia, Milao, Sirmione - foram sobretudo momentos, olhares, confidências trocadas, gargalhadas, músicas, filmes, noites, dias vividos intensamente. Mesmo quando o cansaÇo era muito, estávamos sempre de sorriso na cara, de gargalhada pronta.
Nao fomos turistas, nao eramos portuguesas, nem italianas, eramos cidadas do mundo, com vontade de ver tudo, de conhecer mais. Conhecemos imensas pessoas, fizemos imensos amigos - "Alfreeeeeeedo!!!" -, aprofundámos amizades.


Faltam-me as palavras:




















YEEEEAAAAH!

segunda-feira, 23 de julho de 2007

21 de Julho de 2007









Um McDonald's de despedida no aeroporto, felizes da vida!

15h:
De volta aos comboios de Itàlia, os melhores para dormir. Finalmente estamos aqui, depois de tantos meses a sonhar!! Os exames que ambas tivemos ontem impediram-nos de pensar demasiado na viagem, mas foi sò nos vermos de malas às costas para um sorriso enorme nos preencher. Compram-se duas garrafas de Amendoa Amarga no aeroporto para oferta e reafirma-se o ideal da viagem: a aventura, a loucura, a espontaneidade.
A boa disposiçao e a alegria sao notòrias a cada momento: a apreciar os "chicos" no aeroporto, inclusivé os sòcias, a dar deboche nas freiras, a ter conversas para maiores de 18 no aviao que levam ao maior ataque de riso, a sacar fotos parvas, a cantar Quim Barreiros.
A nossa espera do lado de cà estava a Ste. Que bom voltar a ve-la! Levou-nos até Brescia, onde nos ofereceu o quarto do irmao para dormirmos. A vontade de fiesta era muita, de mandar as garrafas abaixo, mas a realidade de termos entrado de férias hà tao pouco tempo levou-nos a melhor, e, depois de uma sessao de fotos pijama-party, dormimos um super sono.
E agora vamos a caminho de Ferrara, para encontrar a Ale.

17:50h
Voltei a ser gente rude do comboio. Jà tinha saudades desta sensaçao de liberdade total, de ter uma mochila às costas com tudo o que preciso para ser feliz: musica, um bom livro, chanatos para andar e conhecer muito, bikinis para a praia, boa companhia, maquina fotografica para mometos kodak e, claro, um caderno!

sexta-feira, 20 de julho de 2007


Poema que me foi enviado pela Ale, companheira de Erasmus, numa homenagem a todos os que fizeram parte desta experiência. Transcrevo em castelhano por ter sido a língua em que partilhei tantos momentos, tantas experiências, tantos pensamentos, tantos sentimentos, ou simplesmente conversas banais, triviais, indispensáveis.
Para todos os que já fizeram Erasmus, para os que estão a fazer, para os que ainda vão fazer. E para todos os outros também.


¿QUIÉN MUERE?

Muere lentamente quien se transforma en esclavo del hábito,
repitiendo todos los días los mismos trayectos,
quien no cambia de marca, no arriesga vestir un color nuevo
y no le habla a quien no conoce.

Muere lentamente quien hace de la televisión su gurú.
Muere lentamente quien evita una pasión,
quien prefiere el negro sobre blanco
y los puntos sobre las "íes" a un remolino de emociones,
justamente las que rescatan el brillo de los ojos,
sonrisas de los bostezos,
corazones a los tropiezos y sentimientos.

Muere lentamente quien no voltea la mesa cuando está infeliz en el trabajo,
quien no arriesga lo cierto por lo incierto para ir detrás de un sueño,
quien no se permite por lo menos una vez en la vida,
huir de los consejos sensatos.

Muere lentamente quien no viaja,
quien no lee, quien no oye música,
quien no encuentra gracia en si mismo.
Muere lentamente quien destruye su amor propio,
quien no se deja ayudar.
Muere lentamente, quien pasa los días quejándose de su
mala suerte o de la lluvia incesante.

Muere lentamente, quien abandona un proyecto antes de iniciarlo,
no pregunta de un asunto que desconoce
o no respondiendo cuando le indagan sobre algo que sabe.

Evitemos la muerte en suaves cuotas,
recordando siempre que estar vivo exige un esfuerzo
mucho mayor que el simple hecho de respirar.

Solamente la ardiente paciencia hará que conquistemos una espléndida felicidad.


(Pablo Neruda)

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Ericeira

Fomos pela primeira vez há mais de 8 anos, já nem sei precisar bem quando. Éramos quatro. Fomos à praia, andámos de bicicleta, eu e a Carolina corremos na praia para nos aquecermos, enquanto o João e o Chico (que nestes dias tinha que ser Francisco) estavam dentro de água a fazer body-board, fizemos totós ao João, rimos muito, conversámos muito, fizemos as parvoeiras de miúdos.
Passado tanto tempo, voltámos. Desta vez, já mais acompanhados pelos mesmos amigos de antes. Desta vez, já fomos sozinhos, sem precisar da supervisão de pais (se bem que...), já levámos os nossos carros, pagámos as nossas despesas. Desta vez, já fizemos nós o jantar sem o perigo de crianças a mexer no lume. Já fizemos coisas de adultos, como jogar poker a dinheiro ou beber vinho ou falar da faculdade ou fazer piadas de cariz sexual. Mas o ambiente entre amigos continua o mesmo: as gargalhadas de sempre, a confiança de sempre, as brincadeiras de sempre, as boas recordações de tempos idos, as parvoeiras de miúdos que escolhemos continuar a ser.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Tardes de estudo, II

E se for um faz de conta? Uma daquelas histórias escritas por um compositor que dão origem a uma canção com que tantas pessoas se identificam mas que o autor nunca viveu? Ou a fantasia daquele encontro que imaginamos vezes sem conta, planeamos ao pormenor, e quando acontece é totalmente espontâneo? Ou aquela sensação de déja-vu, já vi isto noutra vida, como se o destino nos quisesse dizer algo mas que não passa de um fenómeno físico? E se for só isso?

O cenário não é importante. Ou talvez seja, de certeza que é, mas não tanto quanto se poderia supor. Foi só mais uma desculpa.
Acordou diferente, como se a sua vida tivesse mudado, como se todo o mundo tivesse mudado, só por aquele sonho que lhe dizia
- Conheceste alguém especial, ontem á noite,
alguém em quem quase não tinha reparado, com quem nem teria falado se não estivesse frio.
Não associou. Seguiu a sua vida, ignorando o que lhe era dito. Passaram-se dias, meses, anos, naquela semana. Quando se voltaram a ver nem se apercebeu que foi com ele que sonhara, pouco se lembrava daquela cara, daquela voz. Com o soltar da noite deixou-se conquistar por aquele sorriso lindo e sincero, por aquela mão grande e forte estendida que a salvava de uma vida de enganos, que, lentamente, a puxava para a superfície.
Despediram-se como quem se conhece há anos.

Ele olhou para ela com aqueles olhos que a fazem viajar, com aquele olhar que lhe entra na alma e derruba qualquer defesa, qualquer barreira, que a faria rir á gargalhada ou chorar profundamente se se permitisse, se por uma vez se deixasse ir. Sente que ele a conhece como nunca ninguém a conheceu, que a vê como nunca ninguém a viu.
Fez uma trança no cabelo, como se quisesse pentear para fora de si aqueles pensamentos, mas um
- Linda,
completamente espontâneo, completamente imprevisível, deixou que lhe escapasse pelos olhos tudo o que não queria que ele lesse, não percebendo que ele já tinha lido, ele já sabia muito antes de ela saber.
Despediram-se como quem anseia pelo reencontro.

Decidiu ignorar, afastar-se, ficar longe dele, não se aproximar (eu sei, estou a repetir-me). Mas inconscientemente, despropositadamente, inocentemente, incontrolavelmente, já caminhavam lado a lado, afastados de todos. Ele tocava-lhe só com o respirar e nunca ninguém a tocara assim. Olhavam para o mundo de sorrisos abertos como se tudo o que interessasse naquele momento não fosse encontrado apenas um no outro. Tentavam disfarçar, mais ela que ele. Mexia no cabelo, tentava ocupar as mãos só para, por segundos, se concentrar em mais qualquer coisa que não nele, que não naquele momento. Um momento pelo qual ás vezes se espera uma vida, ali estava, maior do que ela. Não ouvia nada a não ser o coração bater e a respiração dele ali tão próxima. Por vezes tocavam-se, num sem-querer propositado, os braços roçavam, o cabelo dela batia-lhe no ombro. De costas para ele podia sentir, mais forte do que qualquer toque, o olhar dele a percorrer-lhe o corpo, as mãos a contorná-lo afastadas um palmo. Finalmente, um dedo desliza pelo braço dela, ela finge não sentir mas o arrepio que a percorre denuncia-a.
Despediram-se como quem não se quer separar.

Ele procurou os olhos dela quando a ouviu chegar. Ela olha-o como quem já tem toda a certeza num infinito de dúvidas. As mãos tocam-se quando escusado, os corpos aproximam-se mais do que o essencial, os olhares tímidos que trocam falam com toda a frontalidade, já sem o pudor que os lábios insistem em manter. Num repente que demora eternidades o mundo são eles. Não há tempo, nem espaço, nem nada. Escondem-se na liberdade que sentem, procuram-se no que encontraram, encontram-se no que procuravam mesmo sem o procurar. Ele leva-a a sítios que ela ignorava existirem, alguns dentro dela. Fá-la conhecer-se, encontrar-se, assustar-se com esta falta de controlo que nunca tinha sentido antes. Coisas pequenas ganham um significado imenso: o toque dum pé debaixo da mesa, um dar de mãos atrás das costas, escondido, um abraço inesperado, um beijo inesquecível, um convite, uma noite.
Despediram-se.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Deocriste

Nome estranho e desconhecido a todos que não me conhecem muito, muito bem. Bem o suficiente para saber que é a aldeia onde a minha avó nasceu, perto de Viana do Castelo, tendo uma fábrica de papel á entrada que deita sempre um cheiro pestilento que aprendi a gostar por associar a este sítio especial.
Já dormi em todos os quartos: no que sempre foi da minha mãe, tinha antes um papel de parede florido para o qual nunca me fartava de olhar. No que, para todos os efeitos, é do meu tio Tó, mas também da minha avó, onde durmo sempre com a minha irmã e tem guardada toda a minha roupa de bebé ainda recuperável. No que não era bem de ninguém, mas era um bocadinho da minha prima Maria e agora será sempre do tio Juca, onde me lembro de dormir com as minhas duas primas no tempo em cabíamos as três na mesma cama. No que sempre foi da minha tia Guida mas já não é, onde dormi com a minha prima mais nova numa noite em que estava sem os pais, como eu precisava da companhia de alguém para dormir naquela casa distante e familiar ao mesmo tempo quando era pequena. Na sala, que sempre teve sofás-cama, quando a casa ficava cheia de família. Houve até uma tentativa das primas de passar uma noite numa tenda montada no jardim que agora é piscina e onde havia um salgueiro-chorão que me fazia imaginar um labirinto com mil e um cenários, mas a companhia de um quinto habitante (uma centopeia em cima das nossas cabeças) fez-nos gritar e rir ao mesmo tempo enquanto fugíamos da tenda, esquecendo para sempre essa ideia.
Os natais sempre foram especiais. Principalmente na outra casa, aquela mais acima, mais velha, mais assustadora, mais cheia de história(s), com quadros de fotos amareladas de pessoas sisudas que dizem que foram família. A casa onde o chão range a cada passo que se dá, e que o pai-natal nunca esquecia, pondo as prendas todas num cesto preso áquela chaminé enorme, o cesto que subia vazio enquanto os adultos apagavam as luzes e voltava cheio quando as luzes eram acendidas. O porquê de apagarem as luzes só percebi muito mais tarde.
A casa que é uma quinta, tinha vacas, porcos, coelhos, galinhas e dois tanques onde tomei muitos banhos de verão. A casa que tem um terraço com vasos onde crescem morangos óptimos, e onde, numa noite de verão há muito tempo, a família toda dançou a Lambada. Ver a nossa avó e tios-avós dançar a Lambada é uma imagem que nunca se esquece. Daquelas recordações que vamos buscar quando queremos rir á gargalhada.
É uma aldeia que está sempre em festa, ou que nós temos o azar de apanhar sempre no auge. Sim, o azar. Acordar ás 8:30h com foguetes mandados mesmo ao lado de casa e com música portuguesa, popular e de folclore aos berros com altifalante naquele pinheiro gigante que fica mesmo nas traseiras. Durante dias ouvir o Marco Paulo falar da Anita e da Joana, até finalmente admitir que tem dois amores, o Vitor Espadinha vivendo a recordar, as vozes esganiçadas das músicas do Vira (custa arranjar alguém que cante duas notas?), a rainha da noite dos D'Arrasar (ou eram os Excesso?), o medley com algumas das canções da minha infância - tia Anita do Loulé (será a mesma do Marco Paulo? A que não tem namorado e ninguém sabe porquê?), o mar que enrola na areia -, os Da Vinci e a sua música Conquistador, que me fez pular, algumas Mónicas Sintra, alguns Pacos Bandeira, até músicas que falam da mocidade portuguesa, muitos clássicos da música portuguesa.
E voltar ao conforto de Lisboa com todo um repertório de canções para cantarolar.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Tardes de estudo I

A minha vida tem banda sonora. De auscultadores postos imagino-me em mil e um sítios: numa cena romântica dentro de um autocarro cheio de estranhos, num filme de acção enquanto atravesso a rua, num momento de reflexão quando arrumo o quarto, numa viagem no caminho de metro, em Barcelona pelas ruas de Lisboa, no meio de uma pista de dança sentada nas twin towers a estudar, no passado ou no futuro no presente.

A minha capacidade de identificação com qualquer música é inimaginável. Consigo sempre encontrar aquela frase, aquela palavra, aquele acorde, aquele som. "Quem sabe ainda sou uma garotinha" a ouvir La Valse d'Amelie, enquanto os Da Weasel me perguntam se ainda me lembro, "sabes que sim". Not An Addict em Dialectos Da Ternura que me deixam Head Over Feet e com um Hole In My Soul enquanto prometo que "I don't care, no, I wouldn't dare to fix the twist in you". Uma Grace Kelly que "she don't think straight, she got such a dirty mind and it never ever stops" numa "situation number one" em que "só a lua sabe quem eu sou". "I'm as happy as can be" como uma menina á janela "fitting you with weapons in the form of words" em Violent Pornography, porque "beauty lies inside the eye of another youthful dream". "Say 'Goodnight' and go" e "vem rastejar que te faz bem" pois "em mim tudo é maior, hoje o desejo, amanhã nasce o ódio" e "there were times in my life when I was going insane" pensando que The World Is Mine. E eu estou só Sitting, Waiting, Wishing por um Amor d'Água Fresca que me faça perguntar Where is My Mind. E eu só quero uma Life Less Frightening porque "a tacanhez, essa há-de ser eterna" e "frames can't catch you when you're moving like that". Just A Thought.

Mas não é por isso que me passam despercebidas as cenas da vida real. Os casais de velhinhos de mãos dadas, as crianças a rir, ou aquela frase tão pequena mas que diz tanto de um amigo para o outro e que foi a causa de todo este texto: "Cabeça para cima" enquanto lhe levantava o queixo. Pode ter sido só uma frase como outra qualquer, pode não ter o significado oculto que lhe senti, mas foi a frase perfeita para se ouvir entre duas músicas.

sábado, 16 de junho de 2007

15-Junho-2007: Um dia inesquecível.

Começou no dia anterior com um café no Residence depois de um "jantar a dois" na Pizza-Hut. A mim e ao Zé juntou-se a Carolina, e os dois prometeram cantar os parabéns quando as luzes apagassem, á meia-noite. Mas as luzes apagaram e eles não cantaram, só muito timidamente, quase não se ouvia.... Ainda assim, estava dado o mote para um grande dia! Começam a chegar as mensagens, os telefonemas.

Acordo para fazer bolo de bolacha. Á hora do almoço chega a Teresa, que já é da casa, e, com todo o á-vontade que a caracteriza, põe a mesa, abre o frigorífico, serve-nos o almoço, enquanto acabo a última camada do bolo. E nem foi preciso pedir.
O objectivo era irmos fazer coisas que eu nunca tivesse feito antes, mas as ideias não saiam. Ir a uma sex-shop? Já fui. Fumar uma ganza? Já fumei. Apadrinhar um animal no jardim zoológico? Por fazer! Estar em dois sítios ao mesmo tempo? Por fazer! Está feito o plano.


Saimos de casa, eu, a Teresa e a minha irmã e dirigimo-nos ao Jardim Zoológico, para eu apadrinhar um Koala de nome Moonan (a que já chamei Malu, Kalooma, Sebastião).













Pequena paragem na Amazónia.






No caminho de volta ao carro passamos por um carro que "só" estava com uma porta escancarada. As imaginações começam a trabalhar, a ver indícios suspeitos em todo o lado: o carro q está novo, os riscos no porta-luvas, o banco do conductor todo para a frente, o banco do acompanhante todo para trás, o homem com ar de nerd ali a passear-se. Chamo o 112 (uma estreia para mim também) e "só" esperamos 25 min pela polícia, que chega precisamente quando cantamos "A bófia não manda aqui, a bófia não manda aqui!!!!". Vamos para o carro, satisfeitas com as duas boas acções praticadas, confiantes no nosso karma, e seguimos para as Portas de Benfica que separam a Amadora e Lisboa. Enquanto a minha irmã tirava a foto, eu e a Teresa ficávamos no meio da passadeira que fica entre as portas, a parar o trânsito, estando em Lisboa e na Amadora ao mesmo tempo.
Vamos a correr para o supermercado, fazemos as últimas compras para a festa e seguimos para casa. As tarefas são dividias: eu faço a tarte, o arroz, os bifes, a Teresa faz a sangria, a massa, a mana faz a salada de fruta e a salada. Os doces e o patê já eu tinha feito. A Carolina, o Zé, a Sara e a Flores, que entretanto chegaram, ficaram encarregues de encher os balões e fazer a decoração, a Mary de fazer a selecção da música a tocar. Nem tenho tempo de mudar de roupa e arranjar-me, limito-me a mudar de top e a pôr a coroa que a minha irmã tinha comprado, "És a rainha da noiteeeee".

As visitas começam a chegar, poucas mas boas. A comida foi elogiada por todos, a sangria estava óptima, pessoas que não se viam há imenso tempo reencontraram-se, toda a gente se divertiu e eu ADOREI a noite, que acabou no Lux, embora eu não me lembre muito bem..... (consequências da sangria e dos shots de espumante que me obrigaram a beber).












Obrigada ISPIANAS!!! Adorei ter-vos comigo nesta noite! E ADOREI as prendinhas cheirosas!






















Obrigada á melhor mana do mundo, pela ajuda, pela paciência, por seres tão fofinha e apetitosa! ADORO-TE! E és uma vaca porque acabaste de me rebentar um balão nas costas para me assustar!!




E obrigada a todos os que vieram, adorei o meu dia, a minha festa e ADORO-VOS a todos!



Desejo-vos um GRANDE ano!

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Santos Populares










Ás vezes a beleza não é limpa, arrumada, chique. Ás vezes a beleza (para mim, quase sempre) é confusa, imperfeita, imprevisível, louca. Assim são os Santos, a noite de 12 para 13 de Junho em que Lisboa sai á rua na sua melhor forma e baila ao som da sua música pelos seus bairros mais típicos. Aquela noite em que se passeia por zonas da cidade que parecem tão inatingiveis em todas as outras noites, que parecem sempre tão despidas da vida de Lisboa moderna e se enchem de alegria e vida e gente. É quando se dança sem vergonha ao som de Quim Barreiros enquanto se come uma sardinha com as mãos. É a noite que todos os lisboetas esperam durante todo o ano, porque é uma noite sem igual, em que nos permitimos ser povinho, em que temos orgulho de ser povinho.
Encontramo-nos em São Sebastião, preparados para andar o resto da noite. Descer a Av. da Liberdade enquanto desfilam as marchas, embora nunca as tenha visto, e começar a subir a colina, para sentar nas escadinhas duma Igreja a comer caldo verde, sardinhas e chouriço. Tirar a foto dos Santos que, por o meu blog não ter bolinha vermelha ao canto, não posso pôr aqui, e começar a sentir a noite popular. Subir para a Graça, sentar junto ao miradouro e partilhar novidades, que levam sempre (não sei porquê!!!!!) a que toda a gente se parta a rir!
Já temos a música da noite: "A gente vai jantar depois da uma, depois da uma, depois da uma", que nos parece inocente demais para o artista, até nos explicarem que o "da" leva acento...O belo do trocadilho, a lingua portuguesa e os seus esconderijos.
Começar uma moda (faz de conta): "CAROLINA, VAI TER Á SÉ!!!", e depois outra "work, work, work, war, war, war, war, woooooork, waaaaaaar". E ter aquela chatice da noite, aquele vestigio que nos dá razão, que fortalece as nossas certezas. A má decisão de passar para a colina do Bairro Alto que levou a Flores a levar porrada psicológica e a Diana a levar um soco no olho. Ir para o Adamastor só para voltar para trás, encontro no Camões com festa brasileira á mistura e um bocadinho de cenas hardcore. E mesmo assim, foi a melhor noite de Santos de sempre.
Para o ano há mais!

domingo, 10 de junho de 2007

Tróia










Sim, eram 4:13 da manhã quando tirámos esta foto.




Não há nada como ir ao último dia de aulas do ano sabendo que daí seguimos para quase uma semana de Praia, Piscina, Sol e.....estudo. Não podia ter havido melhor preparação para o início das frequências e exames!!!!

sábado, 19 de maio de 2007

"Oh, the simple pleasures in life.."

18-Maio-2007, um DAQUELES dias


Praia

Cliché. "Ôpaaaah...a praia é tsãum boua, é que é mesmo bom ir a praia!! Eu adoro, adoro, adoro!Peixinho dos olhinhos esbugalhados.... "(private joke!!)
Recomeçar.


Praia

Aulas, trabalhos, estudo, testes... Pequena troca de mensagens em crise e uma ida á praia para o dia seguinte. A companhia de sempre arranja o seu espacinho (complicado, numa praia atulhada) entre caras conhecidas de outros tempos e caras novas dos tempos futuros.
Aquele mergulho que limpa a alma e tira o peso do dia-a-dia, particularmente daquela conversa sinistra que arruinou os beneficios da noite passada. Horas ao sol a absorver toda a energia possível e sem uma única má vibração no corpo. Enterrar os pés na areia, deixar os pensamentos viajar para longe.


Amigos

A troca das novidades e aquelas gargalhadas!!!! As de sempre, childhood bestfriends.
Apercebermo-nos de que tanto mudou, vislumbrar (literalmente) diferentes fases das nossas vidas e ver que há coisas que nunca mudarão: nós. Olhamo-nos nos olhos e vemos o familiar.


Comida

A do Verão. Ameijoas á bulhão pato, pão torrado para afundar no molho, tremoços e imperiais fresquinhas ao fim da tarde.


Momentos

O beijinho no carro de trás ao som de "não sou o único a olhar o céu". Eu e a condutora irmos apreciar os estragos (nulos) enquanto a dona do próprio carro nem se mexe. E aquelas gargalhadas.....

"Three little birds" e a mão fora do carro a dançar com o vento. A vista de Lisboa enquanto atravessamos a ponte ao som dum pôr-do-sol.




Só me falta o George Clooney, numa praia deserta, com uma caixa de Martini.






quarta-feira, 2 de maio de 2007

Déja-vus


Sinto-me a Carrie, do Sexo e a Cidade. Isto porque estou "a trabalhar" (entre outras coisas) no meu portátil, na biblioteca do ISPA, virada para a janela com vista para o rio e a pensar em relações. Muito déja-vu... Estava aqui toda inspirada, mas alguém resolveu mexer na ficha e desligar o meu computador, que é tão rápido e eficiente que levou 15 minutos a reanimar, e eu sou tão rápida e eficiente que me esqueci de tudo o que ia escrever.
Estava em animada conversa com a Vanessa, via virtual, e a chegar a algumas das minhas brilhantes teorias ("As Teorias das Júlios e das Marias", publicação está para breve). Isto porque é muito mais fácil analisar quando estamos de fora, quando não somos mais do que a ouvinte das crises, ainda que sempre espantada com as vicissitudes das ligações entre as pessoas, com os encontros, desencontros, reencontros. Interessada pela complexidade das relações que vejo acontecer ao pé de mim. Vejo as relações á distância (física), das quais há tanto para dizer que mais vale não dizer nada..até porque não sou propriamente um Ás neste departamento, ainda que tenha aprendido uma coisinha ou outra e desenvolvido uma data de teorias. Ainda assim são mais fáceis do que aquelas em que as pessoas estão lado a lado, tão perto, mas têm um mundo entre elas. Olham-se mas não se vêem, falam-se mas não se ouvem, a distância é muito maior e não hã avião para a encurtar. Vejo as segundas tentativas, as terceiras, as quartas, as já perdi o número até que simplesmente gastámos as palavras e vejo os pedidos de desculpa interesseiros que chegam sete anos depois (what goes around, comes around), mas que ainda assim ajudam um bocadinho o ego. Vejo e identifico-me com histórias que de tão diferentes se tornam iguais: outros actores, outros cenários, outros momentos, mas o mesmo sentimento de finalidade, de egoísmo, de busca pela liberdade, pelo crescimento, pelo descobrimento, pelo friozinho na barriga, pela novidade.
O que é que se passa com esta Primavera?! Com os campos em flor, as abelhas e as borboletas, os passeios românticos, os novos amores, as paixões, os olhares comilões, os sorrisos marotos... Pessoal, vamos lá a animar!! Ainda temos mais de um mês até ao Verão para aproveitar a época das alergias, do pólen voador, dos narizes atacados. Um "BOA SORTE" para todos!

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Frases Fáceis

Quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga.

domingo, 8 de abril de 2007

Menina


Agora que sei que vocês vêm, de vez em quando, aqui dar uma vista de olhos, a pressão para retratar fielmente esta semana é maior.
Em quatro dias pude matar saudades de algum do melhor de Barcelona: os amigos, os passeios, as gargalhadas, os jantares, as batatas quentes, as bebedeiras, o castelhano arranhado.
Cheguei timidamente, com medo de me sentir meio intrusa, meio deslocada, mas o abraço do Javier que me levantou os pés do chão levou-me de volta a Erasmus. Troca-se um jantar japonês em Lisboa por um mexicano caseiro em Cascais feito pelo Ricardo e, com borboletas na barriga e um sorriso na cara, fica-se a par das novidades do último mês e meio (e parece muito mais...), com direito ao jogo da confiança com um trago de Jose Cuervo, e a testemunhos sobre pirilaus empinados.®
No dia seguinte, a boleia da Mariana levou-me quase como turista deslumbrada, emigrante esquecida, pelo Portugal dos pequeninos. Á má fila tornamos-lhes impossível não se apaixonarem pelo cantinho a beira-mar plantado. A ida á praia, e o passeio pelo Cabo da Roca (onde o Stefano quis ser o primeiro homem a cair no ponto mais ocidental do Continente europeu) e por Sintra conquistaram-nos facilmente. Até quiseram lá voltar no dia seguinte, antes de um curto passeio por Belém e um óptimo jantar em casa dos pais do Nuno, já parte integrante da família de Barcelona. A seguir, Coconuts, uma quase estreia para mim também, mas muito animada e cheia de iniciativa, e a noite acabou com uma viagem-aventura a levar a Ana a casa.
Último dia: de volta á Baixa, já com a companhia do artista Francisco. Parada no Adamastor. Já lá não ia há anos. Jantar no Bairro Alto, obrigatório, numa tasca portuguesa com certeza, pão e vinho sobre a mesa. E na despedida, até o Enrico chorou.
Menina, Lisboa. A minha menina, a menina dos meus olhos. Lisboa, deixou-me orgulhosa saber que te adoraram, que os encantaste, ouvi-los dizer que és das cidades mais bonitas que já viram, que és especial, que és única. Mas isso eu já sabia. Sou alfacinha-de-gema.
Menina, eu. O entusiasmo de estar com algumas das pessoas com quem alguma vez me senti melhor, mais tranquila, mais autêntica, como uma menina sem preocupações. Éramos desconhecidos, espalhados pelo mundo, com experiências diferentes, com backgrounds diferentes, e sem sabermos nada uns dos outros tornamo-nos indispensáveis. Mesmo por não sabermos nada uns dos outros não tínhamos por onde nos julgar. Só sabíamos que nos dávamos todos bem e que estávamos todos bem ali, em Barcelona.
Passei a semana com a certeza constante de que conheci as melhores pessoas com quem partilhar o meu e nosso Erasmus. Obrigada. Aos de lá e aos de cá..
Gosto muito de vocês!
Vos quiero muchisimo!

terça-feira, 3 de abril de 2007

Num Domingo (ou noutro dia qualquer....)

Um momento de proximidade.
Sinto o coração a bater acelerado e um nervoso miudinho que me apanha desprevenida e me impede de tirar os olhos do chão.
A rua está calada. A esta hora da manhã de Domingo, o pouco movimento não tem qualquer semelhança com as buzinas e alarmes dos carros, os gritos dos arrumadores, o zuuum dos carros que passam a grande velocidade, constantes por aqui.
Sinto o fresco da manhã e sinto-me preenchida, como se este sítio tão familiar se apresentasse com novas cores, novos cheiros.
A tua presença é tao confortável...
Falámos pouco e desajeitadamente. Ficou tanto por dizer.
Despedimo-nos com um abraço, tão próximo, tão sincero.
E foste embora.

sábado, 17 de março de 2007

Ao primeiro dia de praia do ano (que esteve óptimo!!!), ás bochechas coradinhas, á marca do bikini, aos mergulhos no mar, ás boas companhias, ás novas amizades, ás velhas amizades, ás gargalhadas, ao pensamento positivo, aos deslumbramentos, aos momentos, ás músicas que nos fazem saltar e dançar, ás saudades de Barcelona, ás visitas que aí vêm, ás verdades, ás ilusões, ás lembranças, ás boas lembranças, ás mudanças e ás constâncias.

sexta-feira, 9 de março de 2007

Aaah, Lisboa!!

Voltei. (Já não é o primeiro que começa assim)
Posso já cá estar há quase um mês, mas só hoje é que voltei, só hoje é que me voltei a sentir lisboeta. Porque hoje é verão. O verão é um estado de espírito e hoje, para mim, é verão. É a magia de Lisboa. Os senhores meteorologistas podem dizer que estão 18º, posso estar de camisola de lã vestida, mas hoje é verão. Hoje, o céu está azul, sem a interrupção das nuvens, hoje o Cristo-Rei via-se claramente da paragem do autocarro, hoje o rio espelhado reflectia o sol (posso ter muitas queixas da minha universidade, mas localização não é uma delas!!), hoje a Praça do Comércio está cheia de pessoas sentadas e até deitadas no chão com as calças arregaçadas até ao joelho, hoje as esplanadas estão montadas e cheias de "girassóis", hoje as pessoas andam mais felizes e descascadas.
O lisboeta não gosta de vestir cinzento e lã. O lisboeta gosta de vestir laranja, verde, amarelo, azul-turquesa. O lisboeta gosta de andar de manga cava e pneu michelin de fora, a aparecer a ponta do novo piercing no umbigo feito em Nova Iorque (bora, Mary????). E, quando chegam estes dias de sol, ainda que em Março, o lisboeta aproveita.
Por isso, com licença, que eu vou beber um sumo de laranja natural e ouvir música de verão no Ipod, enquanto me bronzeio numa esplanada qualquer.

domingo, 25 de fevereiro de 2007

Terceiro Destino: NOVA IORQUE!!






Passavam horas a andar a pé em Nova Iorque: como se seguissem por um caminho sinuoso numa paisagem montanhosa e fascinante, o espectáculo alterava-se a cada passo: no meio do passeio, havia um rapaz ajoelhado a rezar; a dois passos dele, encostada a uma árvore, uma negra belíssima passava pelo sono; um homem de fato preto atravessava a rua a gesticular como se dirigisse uma orquestra invisível; a água caía nas bacias de um fontanário; mesmo ao lado, estavam uns operários sentados a almoçar. Escadarias metálicas trepavam pelas fachadas das casas de tijolo encarnado, casas que, de tão feias, até chegavam a parecer bonitas; mesmo ao lado, erguia-se um gigantesco arranha-céus de vidro por detrás do qual havia outro arranha-céus que culminava num palaciozinho árabe com torres, galerias e colunas douradas.



Milan Kundera, A Insustentável Leveza do Ser.




A foto não é nada representativa da cidade, mas é das melhores em grupo, e os momentos dependem sempre da companhia. Nova Iorque.. um jardim de arranha-céus. Por muitas imagens que se vejam ou muitas descrições que se oiçam, a cidade acaba sempre por nos deslumbrar. É única, com os seus prédios sem fim, com as limusines que estão sempre a passar, com os milhares de taxis, com as pessoas apressadas, com os carrinhos de hot-dogs e de Nuts4Nuts, com o ruído dos carros de bombeiros e ambulâncias que passam constantemente, com as igrejas góticas no meio do mundo de cimento... A melhor palavra para descrever Nova Iorque é "variedade". Variedade de pessoas, variedade de situações, variedade de estilos. A sua heterogeneidade é o que a torna única, a mistura entre o novo e o velho, entre o pequeno e o enorme, entre a luz e o escuro. Adorei.
As temperaturas negativas gelavam-nos a ponta do nariz enquanto calcorreávamos Manhattan de cima a baixo, percorrendo a 5th Avenue ou a Broadway, ou outra avenida gigante e linda. Subimos ao Empire State Building, fomos patinar no Central Park, comemos uma pizza em Little Italy, bebemos chocolate quente no Starbucks, comemos Wendy's, Taco Bell, cachorros quentes na rua e McDonald's, encomendámos chinês para comer em casa das caixinhas (sim, as refeições eram sempre momentos importantes), passeámos por Times Square á noite, iluminadas pelas centenas de anúncios, fizemos muitas compras, fizemos tudo o que queriamos fazer! E rimos muito.
Agora resta-me pensar no próximo destino.



sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Lisbon revisited (2007)

Nada me prende a nada.
Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angústia de fome de carne
O que não sei que seja -
Definidamente pelo indefinido...
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.

Fecharam-me todas as portas abstratas e necessárias.
Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua.
Não há na travessa achada o número da porta que me deram.

Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta - até essa vida...

Compreendo a intervalos desconexos;
Escrevo por lapsos de cansaço;
E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia.
Não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme;
Não sei que ilhas do sul impossível aguardam-me naufrago;
ou que palmares de literatura me darão ao menos um verso.

Não, não sei isto, nem outra coisa, nem coisa nenhuma...
E, no fundo do meu espírito, onde sonho o que sonhei,
Nos campos últimos da alma, onde memoro sem causa
(E o passado é uma névoa natural de lágrimas falsas),
Nas estradas e atalhos das florestas longínquas
Onde supus o meu ser,
Fogem desmantelados, últimos restos
Da ilusão final,
Os meus exércitos sonhados, derrotados sem ter sido,
As minhas cortes por existir, esfaceladas em Deus.

Outra vez te revejo,
Cidade da minha infância pavorosamente perdida...
Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui...

Eu? Mas sou eu o mesmo que aqui vivi, e aqui voltei,
E aqui tornei a voltar, e a voltar.
E aqui de novo tornei a voltar?
Ou somos todos os Eu que estive aqui ou estiveram,
Uma série de contas-entes ligados por um fio-memória,
Uma série de sonhos de mim de alguém de fora de mim?

Outra vez te revejo,
Com o coração mais longínquo, a alma menos minha.

Outra vez te revejo - Lisboa e Tejo e tudo -,
Transeunte inútil de ti e de mim,
Estrangeiro aqui como em toda a parte,
Casual na vida como na alma,
Fantasma a errar em salas de recordações,
Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem
No castelo maldito de ter que viver...

Outra vez te revejo,
Sombra que passa através das sombras, e brilha
Um momento a uma luz fúnebre desconhecida,
E entra na noite como um rastro de barco se perde
Na água que deixa de se ouvir...

Outra vez te revejo,
Mas, ai, a mim não me revejo!
Partiu-se o espelho mágico em que me revia idêntico,
E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim -
Um bocado de ti e de mim!...

Álvaro de Campos


Ás vezes as palavras que sentimos já foram ditas por alguém.
Voltei a casa, voltei á minha vida. Mas sinto-me em fragmentos. Não sei que partes de mim voltaram, que partes de mim ficaram, que partes de mim ficaram perdidas para sempre. Tento reencontrar-me pelas ruas de Lisboa, mas já não a sinto minha, assim como já não me sinto eu. Cada momento é passado em reconstrução, tentando unir pedaços de mim que agora tenho disponiveis, mas desconheço-me. Em cinco meses criei outra vida, que sinto mais minha que esta. Ou talvez só tenha que aprender a unir-las.

domingo, 11 de fevereiro de 2007











Obrigada.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Uma semana..

Hoje é a minha última Quarta-feira em Barcelona. Daqui a uma semana, por esta hora, estou de volta a Lisboa, com tudo o que isso significa. Por vezes quase que prefiro ficar fechada em casa e não estar com ninguém, porque quando estou não consigo deixar de pensar em como vou perder tantos momentos, em como me sinto bem aqui.
Quarta-feira. Pode parecer um dia normal, e nem é dos preferidos da maioria das pessoas, mas aqui, muitas semanas, marcava o início do meu fim-de-semana: Festas Erasmus, no Baja Beach Club; jantares coreanos; Shôko; Teatro; jantares em Collblanc.

Para não quebrar a tradição: hoje, Shôko!

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Escrevo o mundo no meu corpo


Exigências dos meus pais para Erasmus:

  • não te drogues
  • não bebas muito
  • não faças asneiras
  • não faças piercings
  • Não faças tatuagens.....

Ups.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Em Barcelona, gosto...

  • dos meus amigos,
  • da vista do meu 18º andar,
  • de me sentir em casa,
  • de ir a pé até à Sagrada Família, passando pela Avinguda Gaudi e seguir pela Carrer Provença até ao Passeig de Gracia,
  • de passear perto do meu piso até á Carrer Verdi,
  • de passear,
  • dos jantares em Collblanc,
  • das festas em Collblanc,
  • dos dias de sol (quase todos),
  • de me sentar na varanda a apanhar sol,
  • do caminho do Metro até casa, de madrugada, a ouvir música e a cantar e dançar para aquecer do frio,
  • de passar por um BUS turístico e pensar que já penso nesta cidade como uma turista,
  • dos convites inesperados,
  • que seja tao sincera,
  • de cozinhar pesto uma vez por semana,
  • da "Boulevard" Passeig de Gracia,
  • da minha casa, do meu quarto, da minha casa-de-banho,
  • das bebedeiras,
  • dos jantares fora, quase sempre sushi,
  • dos programas diferentes, como ir a um concerto ou ao teatro,
  • das viagens de Domingo,
  • das pessoas ficarem amigas num dia, numa hora,
  • de conhecer pessoas de cada canto do mundo,
  • de tudo o que aprendi, sendo a minoria conhecimento académico,
  • de ir para casa de NitBUS e ver o sossego nocturno da cidade,
  • das viagens que fiz no comboio para o aeroporto,
  • de querer ficar para sempre,
  • das gargalhadas, sempre sinceras,
  • dos olhares cúmplices,
  • de ouvir o vento deitada na minha cama,
  • de me saber tao diferente da pessoa que era quando vim,
  • de aprender pratos novos, a maioria pasta,
  • de tantas vezes ser só eu e italianos e eles falarem castelhano,
  • de nao me sentir uma estudante Erasmus porque tudo isto me parece natural,
  • da fascina. Ou do final dela,
  • que seja tao variada,
  • de saber que Domingo vou acordar com o barulho da claque do Club Esportiu Europa,
  • das noites passadas com amigos "perdidos pelas Ramblas",
  • de quase tudo,
  • que haja uma música sobre ela, com a qual me identifico tanto,
  • de morar perto do centro,
  • de me lembrar sempre de mais qualquer coisa que gosto,
  • de ver a torre Agbar a mudar as cores,
  • dos meus amigos,
  • do meu chá verde diário, normalmente acompanhado por um bocado de chocolate,
  • das noites de chicas,
  • de estar aqui.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Erasmus


"Risas y llantos, nervios, nuevas responsabilidades, nuevos amigos, nuevo idioma... Así es el Erasmus."


Fosse só isso e não seria tão difícil pensar que daqui a três semanas volto a Lisboa, terminando os risos e lágrimas, nervos, novas responsabilidades, novos amigos, novo idioma, Erasmus.
Hoje, mais do que em muito tempo, custa-me pensar nisso. Hoje, que nem esteve um dia de sol daqueles que me fazem querer ficar para sempre, que acordei as 6:30h para ter um exame de uma cadeira que até nem me interessa muito, que estive três horas e meia a fazer tempo na universidade para falar com um professor, enfim, que não foi um daqueles dias que só podem acontecer aqui, quero ficar.
Desde que voltei de Portugal que me tenho vindo a acostumar á ideia de que o meu tempo aqui está a acabar. E isso não me tem perturbado porque sinto muitas diferenças de quando cheguei pronta para esta aventura, e sei que no próximo semestre muito mais diferenças ia notar, porque quase todos voltam a casa. Ainda bem que sou das primeiras a ir e não tenho que ir ficando para trás a ver a cidade a ficar vazia. Vou poder sempre recordar os nossos primeiros meses aqui, quando tudo era novidade, tudo era para sempre, tudo era festa.
Só que hoje, a recordação não me chega.



domingo, 21 de janeiro de 2007

Porque faz parte de mim, ou Psicologia

A Psicologia é a ciência que estuda a mente, sejam os seus processos internos - pensamentos, sentimentos, emoções, inconsciente - ou os seus processos externos - comportamento, atitudes, conduta. A Ciência é o conhecimento o que engloba verdades gerais ou a operação de leis gerais especialmente obtidas e testadas através do método científico. Assim a Psicologia foi considerada ciência quando, em 1879, Wundt criou o primeiro laboratório de estudos humanos e pôde aplicar o método científico - conjunto de regras básicas para um cientista desenvolver uma experiência a fim de produzir conhecimento - a este estudo.
A primeira força da Psicologia surge no início de séc XX pelas mãos de Watson, e dá pelo nome de Behaviorismo. Associados a esta corrente surgem nomes como Ivan Pavlov(e os seus cachorros), em cujas experiências se baseia o Comportamentalismo, Burrhus Skinner, que criou a Skinner-box, e Albert Bandura. O behaviorismo afirma que a simples observação do comportamento é a melhor forma de investigar os processos mentais, pretendendo prever e controlar o comportamento. Não inclui a pessoa enquanto ser com vontade no processo, e reduz-nos ás respostas que damos a determinado estimulo.
A segunda potência da Psicologia é a Psicanálise, criada por Freud, e desenvolvida por Anna Freud, Melanie Klein, Carl Jung, entre outros. Esta corrente tenta encontrar relação entre o material inconsciente e os processos mentais do paciente. O sujeito é convidado a dizer tudo o que lhe venha á cabeça, sem bloqueios, e o terapeuta, através da livre associação e da análise de transferência, interpreta o que o paciente diz. Como inovações da Psicanálise destacam-se o conceito de inconsciente (que já existia mas que adquiriu uma nova forma), de pulsões inconscientes, determinantes e explicativos da nossa conduta, e repressão, processo através do qual se negam esses desejos inconscientes. Embora já haja um contacto directo com a pessoa, esta é reduzida aos seus impulsos inconscientes, sobre os quais não tem controlo.
No final da década de 50 do século passado Maslow, Rogers e outros reunem-se para discutir a necessidade de uma psicologia mais humanista, que encare o homem como um todo, como um ser com vontade e liberdade. Surge a Psicologia Humanista, terceira força da Psicologia, que se vem opôr ao reducionismo do Behaviorismo e da Psicanálise. Tem bases no pensamento Existencialista, que tenta compreender o fundamental da condição humana, na Fenomenologia, que não separa os fenómenos internos da pessoa, na psicologia da Gestalt, que tem uma visão holista do homem e no Pragmatismo, que acredita que o homem tem poder de acção e de alterar os limites da sua condição humana. A Psicologia Humanista tem uma visão construtivista e positiva do ser humano e da sua capacidade para criar a sua vida. Valoriza as qualidades humanas como a escolha, a criatividade, a criação, a liberdade. Existem vários autores e modelos psicoterapêuticos que defendem os postulados da Psicologia Humanista. Destacam-se Carl Rogers, um dos principais criadores, e Viktor Frankl, um sobrevivente do Holocausto. Carl Rogers acreditava na força e bondade de cada pessoa, e que as pessoas têm as respostas para os seus problemas, desenvolvendo a Aproximação Centrada na Pessoa. Rogers vê o paciente como um ser único que procura a auto-realização. Viktor Frankl propôs a Logoterapia, que pretende ajudar a pessoa a encontrar o seu sentido de vida. Vê o homem como um ser livre, responsável, com uma existência espiritual e com valores. O mais profundo dinamismo do ser humano é o desejo de um sentido, que é construído por si mesmo.O homem da Psicologia Humanista é livre, é um sistema aberto em constante construção, com uma liberdade de escolha que lhe permite construir o seu modelo de vida, é um ser com criatividade e com poder de criação, que procura e influi o seu sentido de vida.
Eu gosto deste homem. Só tive contacto com a Psicologia Humanista este ano. Neste momento é a teoria com a qual me identifico mais. Tenho exame disto, amanhã. Acho que estou preparada.

domingo, 14 de janeiro de 2007

Segundo destino: Valência



Sexta-feira, 12 de Janeiro 2007

5h(!!!): Despertador
Dormi duas horas. Ás 5:30h estava a apanhar um taxi com a Stefania para irmos para o aeroporto, onde nos íamos encontrar com a Ale, o Nuno e o Enrico, e muito rapidamente fazer o check-in porque o voo era as 7h. Era noite cerrada.

7h: Descolagem
Depois de um check-in de "Último minuto" e de uma "última chamada para os passageiros (...)" conseguimos apanhar o avião que ia quase vazio. Uma hora depois aterrávamos em Valência, sem dar tempo nem para ver todo o episódio de Friends que passava no avião.

10h: Desayuno
Conseguimos o quarto misto para seis pessoas como queriamos, na pousada que queriamos. Só podíamos entrar ás 13h, então deixámos as malas e fomos conhecer a cidade. Tomámos um pequeno-almoço óptimo á base de chocolate quente (que aqui é mais espesso que mousse de chocolate) num café muito pequeno na Carrer de la Pau, a rua da nossa pousada. Daí partimos para o centro histórico, passando pela Plaza de la Reina, onde está a Catedral, a Plaza de la Virgen, que tem uma fonte linda, seguimos pela margem do rio seco Turia, que foi transformado num parque, até ás Torres de Serranos, que nos levaram ao Bairro de Carmen.

13h: Almoço
No McDonald's, "imposto" pelo Enrico mas apoiado pela maioria (ou pelo menos, por mim). O sol que fazia convidava a sentar-nos na esplanada da Plaza de la Reina, em frente á Catedral. Ali ficámos duas horas a conversar e a gozar o dia de "primavera". Depois, lutando contra o sono, fomos conhecer o Palacio del Marqués de Dos Aguas e o Museo de Bellas Artes, passando por uma rua cheia de lojas, onde as chicas tentaram hacer un poquito de compras.

18h: Siesta (!!!!)
Finalmente não aguentámos mais e aproveitámos a escuridão do final do dia e o convencer-nos que o pequeno centro histórico da cidade já estava conhecido como desculpa para dormir um bocadinho até ao jantar, no nosso Quarto Verde.

21h: Noche
Acordados mais fresquinhos da siesta, preparámo-nos para a noite, que prometia. A vontade era comer paella, mas os preços dos restaurantes que encontrámos nao permitiram, acabámos por comer num típico restaurante espanhol, com uma sala tão pequena que mais parecia que estávamos na casa de alguém. Nas paredes, imagens de touradas. Comemos super bem: pão, salada, entrada e uma carne estufada acompanhada com batatas fritas. E claro, vinho. Satisfeitos, fomos para o bairro de Carmen, onde estava a animação. Começámos por um bar cubano: o Johnny Maracas. Foi o início perfeito. Depois, sem saber bem para onde ir, mas com vontade de provar a Água de Valencia, entrámos num bar/discoteca chamado Radio City. A vontade de aproveitar a noite era grande, mas estávamos todos cansados, por isso as 3h estávamos na cama.


Sábado, 13 de Janeiro 2007

11h: Desayuno
Desta vez num sítio diferente: na Plaza de la Reina, um café especialista em chocolate, fosse chocolate quente, bombons, bolos... Depois, pusemo-nos a caminho do lado novo da cidade. Atravessámos a Puente de la Exposición e baixámos para os Jardins del Turia, até encontrarmos o Palácio da Música, que infelizmente estava fechado. Mas á frente deste está um pequeno lago, e, claro, está sempre a tocar música. Um sítio espectacular, onde se está lindamente. Continuando pelo parque fomos dar ao Gulliver. Sim, ao Gulliver. É um Gulliver gigante deitado na areia, como preso pelos Liliputianos, e os seus cabelos e roupa sao pequenos (ou grandes!!) escorregas. Então as "crianças" andam ali a divertir-se, como pequenos liliputianos. Logo adiante fica a Cidade das Artes e das Ciências de Valência, um conjunto de cinco edificios do Calatrava, cada um deles representando, á sua maneira, um animal.

14h: Cidade das Artes e das Ciências de Valência
A ideia era ver o máximo possivel mas é preciso mais de um dia para ver tudo. Decidimos visitar só o Oceanografico que demora á volta de cinco horas para ser bem visto. Mas vale a pena!! É lindo. É enorme, está dividido por zonas diferentes, cada uma mais bonita que a outra: o Mar Mediterrâneo, que já me é familiar, os Humedales, um esfera gigante que simboliza a transição entre os ecossitemas terrestre e marino, os climas Temperados e Tropicais, onde há um tunel submarino de 70 metros de cumprimento, o mais largo da Europa, os Oceanos, onde se podem ver tubarões, o Ártico, o Antártico, as Islas, onde os leões marinhos arrotantes dão um espectáculo para todos os visitantes, e o Mar Vermelho.

20:30h: Paella!
No final daquela andança toda só queriamos sentar-nos a comer uma boa paella, apanhámos um taxi e fomos para a zona da praia. Marcámos mesa no restaurante La Pepica e fomos fazer tempo para perto da praia até á hora em que o restaurante abria, olhando para o relógio a cada 5 min porque a fome apertava. Á hora marcada, lá estávamos. Sentámo-nos e abrimos a ementa, prontos a escolher a paella que queriamos. Três queriam uma, e dois queriam outra, e como as doses exigiam um minimo de duas pessoas por paella estava perfeito. Mas quando pedimos, fomos informados que não podia ser. Cada mesa só tinha direito a escolher um tipo de paella, porque naquele dia só estavam com quatro cozinheiros. Claro que o riso e a indignação foi geral, e depois de muita argumentação, o senhor lá foi perguntar aos cozinheiros se davam autorização a que fosse assim. No final, cada um comeu o que quis, e as paellas estavam óptimas!

00h: Água de Valencia
Tinhamos que experimentar! É feita com sumo natural de laranja, cava e vodka. Na Plaza de la Reina entrámos na tasca mais rasca da cidade, onde passeavam cucarachas pela parede. Mas acabou por ser divertidissimo. A água de valencia é óptima!! Ficámos todos super borrachos e íamos sendo expulsos do hostel, mas foi a noite perfeita para despedida.


Domingo, 14 de Janeiro 2007
11:30h: Check-out
Já sem nada para conhecer, separámo-nos em dois grupos: a Ale e o Nuno foram para a zona do porto comprar um regalo de cumple para o pai da Ale, e eu, a Ste e o Enrico ficámos perto do hostel. Só nos voltamos a encontrar no aeroporto, onde as 15h apanhámos o avião de volta para Barcelona, o nosso ponto de encontro.



Foi um óptimo fim-de-semana!!! A repetir.


quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Primeiro destino: Barcelona


Voltei.
Hoje já acordei em Barcelona, para a minha vista sobre a cidade, para me voltar a apaixonar, para perceber porque senti tanta falta de estar aqui. Desta vez não havia ninguém a despedir-se de mim no aeroporto, não havia ninguém a fazer o check-in comigo, não havia ninguém a fazer o embarque comigo, não havia uma cara familiar no avião onde vim. Desta vez não havia ninguém á minha espera no aeroporto, e muito menos dois braços estendidos á espera de me receber em casa. Mas não foi triste. Foi um regresso a casa de umas férias bem passadas, em que temos pena de deixar o sítio onde estamos mas já sentimos falta do que deixámos e cada passo nos parece natural, familiar. Desta vez não havia duas malas gigantes cheias de coisas, cheias com a minha vida, mais o computador num braço, o saco cama no outro, e mais uma mala pequena na mão. Só havia uma mala vazia pois já não tenho nada para trazer, já cá está tudo. A minha vida está aqui; ainda que temporariamente.
Não deixa de ser curioso pensar que fui de férias á cidade onde nasci e onde vivi (quase) toda a minha vida, fui de férias para a minha própria casa, para o meu próprio quarto. E agora que as férias acabaram apercebo-me que é mais fácil estar aqui, talvez precisamente por ser temporário e por me poder afastar das exigências da vida real. Por alguns meses posso desligar-me dos problemas e dúvidas que me esperam em Lisboa e viver entusiasticamente esta vida que me foi emprestada por uma tal "estudante de Erasmus" com a qual nunca me identifiquei muito bem. Nestes meses os meus problemas são outros, mas por serem temporários não lhes dou importância, logo, nestes meses não tenho problemas.
Não há maior viagem do que aquela que Erasmus nos faz fazer dentro de nós.

Razões


Um recente bom amigo disse-me uma vez que eu devia arranjar um hobby. Eu pensei um bocado naquilo e como até já queria criar um blog há algum tempo achei que não havia melhor altura que esta, em que estou a fazer Erasmus em Barcelona, tenho muito para partilhar. Assim, agradeço ao artista Francisco o empurrãozinho que me faltava na coragem.

Sempre adorei escrever.
Quando era pequena escrevia sobre as aventuras de dois irmãos gémeos, escrevia poemas, escrevia cartas, escrevia composições, escrevia um diário. Depois cresci. Passei a ter que gerir o meu tempo e a ter que encaixar a escrita entre escola, estudo, tempo com os amigos, e aos poucos foi perdendo a importância que tinha. Nunca deixei de escrever, mas não o fazia com a mesma regularidade e naturalidade que antes. Antes, quando olhar para uma folha de papel em branco não era um desafio receado, quando não tinha que me preocupar com a "inspiração", porque se não vinha num dia, vinha no outro.
Pode ser que com um blog recupere essa naturalidade e me sente mais amiúde a fazer aquilo que mais gosto: Escrever.