quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Erasmus


"Risas y llantos, nervios, nuevas responsabilidades, nuevos amigos, nuevo idioma... Así es el Erasmus."


Fosse só isso e não seria tão difícil pensar que daqui a três semanas volto a Lisboa, terminando os risos e lágrimas, nervos, novas responsabilidades, novos amigos, novo idioma, Erasmus.
Hoje, mais do que em muito tempo, custa-me pensar nisso. Hoje, que nem esteve um dia de sol daqueles que me fazem querer ficar para sempre, que acordei as 6:30h para ter um exame de uma cadeira que até nem me interessa muito, que estive três horas e meia a fazer tempo na universidade para falar com um professor, enfim, que não foi um daqueles dias que só podem acontecer aqui, quero ficar.
Desde que voltei de Portugal que me tenho vindo a acostumar á ideia de que o meu tempo aqui está a acabar. E isso não me tem perturbado porque sinto muitas diferenças de quando cheguei pronta para esta aventura, e sei que no próximo semestre muito mais diferenças ia notar, porque quase todos voltam a casa. Ainda bem que sou das primeiras a ir e não tenho que ir ficando para trás a ver a cidade a ficar vazia. Vou poder sempre recordar os nossos primeiros meses aqui, quando tudo era novidade, tudo era para sempre, tudo era festa.
Só que hoje, a recordação não me chega.



domingo, 21 de janeiro de 2007

Porque faz parte de mim, ou Psicologia

A Psicologia é a ciência que estuda a mente, sejam os seus processos internos - pensamentos, sentimentos, emoções, inconsciente - ou os seus processos externos - comportamento, atitudes, conduta. A Ciência é o conhecimento o que engloba verdades gerais ou a operação de leis gerais especialmente obtidas e testadas através do método científico. Assim a Psicologia foi considerada ciência quando, em 1879, Wundt criou o primeiro laboratório de estudos humanos e pôde aplicar o método científico - conjunto de regras básicas para um cientista desenvolver uma experiência a fim de produzir conhecimento - a este estudo.
A primeira força da Psicologia surge no início de séc XX pelas mãos de Watson, e dá pelo nome de Behaviorismo. Associados a esta corrente surgem nomes como Ivan Pavlov(e os seus cachorros), em cujas experiências se baseia o Comportamentalismo, Burrhus Skinner, que criou a Skinner-box, e Albert Bandura. O behaviorismo afirma que a simples observação do comportamento é a melhor forma de investigar os processos mentais, pretendendo prever e controlar o comportamento. Não inclui a pessoa enquanto ser com vontade no processo, e reduz-nos ás respostas que damos a determinado estimulo.
A segunda potência da Psicologia é a Psicanálise, criada por Freud, e desenvolvida por Anna Freud, Melanie Klein, Carl Jung, entre outros. Esta corrente tenta encontrar relação entre o material inconsciente e os processos mentais do paciente. O sujeito é convidado a dizer tudo o que lhe venha á cabeça, sem bloqueios, e o terapeuta, através da livre associação e da análise de transferência, interpreta o que o paciente diz. Como inovações da Psicanálise destacam-se o conceito de inconsciente (que já existia mas que adquiriu uma nova forma), de pulsões inconscientes, determinantes e explicativos da nossa conduta, e repressão, processo através do qual se negam esses desejos inconscientes. Embora já haja um contacto directo com a pessoa, esta é reduzida aos seus impulsos inconscientes, sobre os quais não tem controlo.
No final da década de 50 do século passado Maslow, Rogers e outros reunem-se para discutir a necessidade de uma psicologia mais humanista, que encare o homem como um todo, como um ser com vontade e liberdade. Surge a Psicologia Humanista, terceira força da Psicologia, que se vem opôr ao reducionismo do Behaviorismo e da Psicanálise. Tem bases no pensamento Existencialista, que tenta compreender o fundamental da condição humana, na Fenomenologia, que não separa os fenómenos internos da pessoa, na psicologia da Gestalt, que tem uma visão holista do homem e no Pragmatismo, que acredita que o homem tem poder de acção e de alterar os limites da sua condição humana. A Psicologia Humanista tem uma visão construtivista e positiva do ser humano e da sua capacidade para criar a sua vida. Valoriza as qualidades humanas como a escolha, a criatividade, a criação, a liberdade. Existem vários autores e modelos psicoterapêuticos que defendem os postulados da Psicologia Humanista. Destacam-se Carl Rogers, um dos principais criadores, e Viktor Frankl, um sobrevivente do Holocausto. Carl Rogers acreditava na força e bondade de cada pessoa, e que as pessoas têm as respostas para os seus problemas, desenvolvendo a Aproximação Centrada na Pessoa. Rogers vê o paciente como um ser único que procura a auto-realização. Viktor Frankl propôs a Logoterapia, que pretende ajudar a pessoa a encontrar o seu sentido de vida. Vê o homem como um ser livre, responsável, com uma existência espiritual e com valores. O mais profundo dinamismo do ser humano é o desejo de um sentido, que é construído por si mesmo.O homem da Psicologia Humanista é livre, é um sistema aberto em constante construção, com uma liberdade de escolha que lhe permite construir o seu modelo de vida, é um ser com criatividade e com poder de criação, que procura e influi o seu sentido de vida.
Eu gosto deste homem. Só tive contacto com a Psicologia Humanista este ano. Neste momento é a teoria com a qual me identifico mais. Tenho exame disto, amanhã. Acho que estou preparada.

domingo, 14 de janeiro de 2007

Segundo destino: Valência



Sexta-feira, 12 de Janeiro 2007

5h(!!!): Despertador
Dormi duas horas. Ás 5:30h estava a apanhar um taxi com a Stefania para irmos para o aeroporto, onde nos íamos encontrar com a Ale, o Nuno e o Enrico, e muito rapidamente fazer o check-in porque o voo era as 7h. Era noite cerrada.

7h: Descolagem
Depois de um check-in de "Último minuto" e de uma "última chamada para os passageiros (...)" conseguimos apanhar o avião que ia quase vazio. Uma hora depois aterrávamos em Valência, sem dar tempo nem para ver todo o episódio de Friends que passava no avião.

10h: Desayuno
Conseguimos o quarto misto para seis pessoas como queriamos, na pousada que queriamos. Só podíamos entrar ás 13h, então deixámos as malas e fomos conhecer a cidade. Tomámos um pequeno-almoço óptimo á base de chocolate quente (que aqui é mais espesso que mousse de chocolate) num café muito pequeno na Carrer de la Pau, a rua da nossa pousada. Daí partimos para o centro histórico, passando pela Plaza de la Reina, onde está a Catedral, a Plaza de la Virgen, que tem uma fonte linda, seguimos pela margem do rio seco Turia, que foi transformado num parque, até ás Torres de Serranos, que nos levaram ao Bairro de Carmen.

13h: Almoço
No McDonald's, "imposto" pelo Enrico mas apoiado pela maioria (ou pelo menos, por mim). O sol que fazia convidava a sentar-nos na esplanada da Plaza de la Reina, em frente á Catedral. Ali ficámos duas horas a conversar e a gozar o dia de "primavera". Depois, lutando contra o sono, fomos conhecer o Palacio del Marqués de Dos Aguas e o Museo de Bellas Artes, passando por uma rua cheia de lojas, onde as chicas tentaram hacer un poquito de compras.

18h: Siesta (!!!!)
Finalmente não aguentámos mais e aproveitámos a escuridão do final do dia e o convencer-nos que o pequeno centro histórico da cidade já estava conhecido como desculpa para dormir um bocadinho até ao jantar, no nosso Quarto Verde.

21h: Noche
Acordados mais fresquinhos da siesta, preparámo-nos para a noite, que prometia. A vontade era comer paella, mas os preços dos restaurantes que encontrámos nao permitiram, acabámos por comer num típico restaurante espanhol, com uma sala tão pequena que mais parecia que estávamos na casa de alguém. Nas paredes, imagens de touradas. Comemos super bem: pão, salada, entrada e uma carne estufada acompanhada com batatas fritas. E claro, vinho. Satisfeitos, fomos para o bairro de Carmen, onde estava a animação. Começámos por um bar cubano: o Johnny Maracas. Foi o início perfeito. Depois, sem saber bem para onde ir, mas com vontade de provar a Água de Valencia, entrámos num bar/discoteca chamado Radio City. A vontade de aproveitar a noite era grande, mas estávamos todos cansados, por isso as 3h estávamos na cama.


Sábado, 13 de Janeiro 2007

11h: Desayuno
Desta vez num sítio diferente: na Plaza de la Reina, um café especialista em chocolate, fosse chocolate quente, bombons, bolos... Depois, pusemo-nos a caminho do lado novo da cidade. Atravessámos a Puente de la Exposición e baixámos para os Jardins del Turia, até encontrarmos o Palácio da Música, que infelizmente estava fechado. Mas á frente deste está um pequeno lago, e, claro, está sempre a tocar música. Um sítio espectacular, onde se está lindamente. Continuando pelo parque fomos dar ao Gulliver. Sim, ao Gulliver. É um Gulliver gigante deitado na areia, como preso pelos Liliputianos, e os seus cabelos e roupa sao pequenos (ou grandes!!) escorregas. Então as "crianças" andam ali a divertir-se, como pequenos liliputianos. Logo adiante fica a Cidade das Artes e das Ciências de Valência, um conjunto de cinco edificios do Calatrava, cada um deles representando, á sua maneira, um animal.

14h: Cidade das Artes e das Ciências de Valência
A ideia era ver o máximo possivel mas é preciso mais de um dia para ver tudo. Decidimos visitar só o Oceanografico que demora á volta de cinco horas para ser bem visto. Mas vale a pena!! É lindo. É enorme, está dividido por zonas diferentes, cada uma mais bonita que a outra: o Mar Mediterrâneo, que já me é familiar, os Humedales, um esfera gigante que simboliza a transição entre os ecossitemas terrestre e marino, os climas Temperados e Tropicais, onde há um tunel submarino de 70 metros de cumprimento, o mais largo da Europa, os Oceanos, onde se podem ver tubarões, o Ártico, o Antártico, as Islas, onde os leões marinhos arrotantes dão um espectáculo para todos os visitantes, e o Mar Vermelho.

20:30h: Paella!
No final daquela andança toda só queriamos sentar-nos a comer uma boa paella, apanhámos um taxi e fomos para a zona da praia. Marcámos mesa no restaurante La Pepica e fomos fazer tempo para perto da praia até á hora em que o restaurante abria, olhando para o relógio a cada 5 min porque a fome apertava. Á hora marcada, lá estávamos. Sentámo-nos e abrimos a ementa, prontos a escolher a paella que queriamos. Três queriam uma, e dois queriam outra, e como as doses exigiam um minimo de duas pessoas por paella estava perfeito. Mas quando pedimos, fomos informados que não podia ser. Cada mesa só tinha direito a escolher um tipo de paella, porque naquele dia só estavam com quatro cozinheiros. Claro que o riso e a indignação foi geral, e depois de muita argumentação, o senhor lá foi perguntar aos cozinheiros se davam autorização a que fosse assim. No final, cada um comeu o que quis, e as paellas estavam óptimas!

00h: Água de Valencia
Tinhamos que experimentar! É feita com sumo natural de laranja, cava e vodka. Na Plaza de la Reina entrámos na tasca mais rasca da cidade, onde passeavam cucarachas pela parede. Mas acabou por ser divertidissimo. A água de valencia é óptima!! Ficámos todos super borrachos e íamos sendo expulsos do hostel, mas foi a noite perfeita para despedida.


Domingo, 14 de Janeiro 2007
11:30h: Check-out
Já sem nada para conhecer, separámo-nos em dois grupos: a Ale e o Nuno foram para a zona do porto comprar um regalo de cumple para o pai da Ale, e eu, a Ste e o Enrico ficámos perto do hostel. Só nos voltamos a encontrar no aeroporto, onde as 15h apanhámos o avião de volta para Barcelona, o nosso ponto de encontro.



Foi um óptimo fim-de-semana!!! A repetir.


quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Primeiro destino: Barcelona


Voltei.
Hoje já acordei em Barcelona, para a minha vista sobre a cidade, para me voltar a apaixonar, para perceber porque senti tanta falta de estar aqui. Desta vez não havia ninguém a despedir-se de mim no aeroporto, não havia ninguém a fazer o check-in comigo, não havia ninguém a fazer o embarque comigo, não havia uma cara familiar no avião onde vim. Desta vez não havia ninguém á minha espera no aeroporto, e muito menos dois braços estendidos á espera de me receber em casa. Mas não foi triste. Foi um regresso a casa de umas férias bem passadas, em que temos pena de deixar o sítio onde estamos mas já sentimos falta do que deixámos e cada passo nos parece natural, familiar. Desta vez não havia duas malas gigantes cheias de coisas, cheias com a minha vida, mais o computador num braço, o saco cama no outro, e mais uma mala pequena na mão. Só havia uma mala vazia pois já não tenho nada para trazer, já cá está tudo. A minha vida está aqui; ainda que temporariamente.
Não deixa de ser curioso pensar que fui de férias á cidade onde nasci e onde vivi (quase) toda a minha vida, fui de férias para a minha própria casa, para o meu próprio quarto. E agora que as férias acabaram apercebo-me que é mais fácil estar aqui, talvez precisamente por ser temporário e por me poder afastar das exigências da vida real. Por alguns meses posso desligar-me dos problemas e dúvidas que me esperam em Lisboa e viver entusiasticamente esta vida que me foi emprestada por uma tal "estudante de Erasmus" com a qual nunca me identifiquei muito bem. Nestes meses os meus problemas são outros, mas por serem temporários não lhes dou importância, logo, nestes meses não tenho problemas.
Não há maior viagem do que aquela que Erasmus nos faz fazer dentro de nós.

Razões


Um recente bom amigo disse-me uma vez que eu devia arranjar um hobby. Eu pensei um bocado naquilo e como até já queria criar um blog há algum tempo achei que não havia melhor altura que esta, em que estou a fazer Erasmus em Barcelona, tenho muito para partilhar. Assim, agradeço ao artista Francisco o empurrãozinho que me faltava na coragem.

Sempre adorei escrever.
Quando era pequena escrevia sobre as aventuras de dois irmãos gémeos, escrevia poemas, escrevia cartas, escrevia composições, escrevia um diário. Depois cresci. Passei a ter que gerir o meu tempo e a ter que encaixar a escrita entre escola, estudo, tempo com os amigos, e aos poucos foi perdendo a importância que tinha. Nunca deixei de escrever, mas não o fazia com a mesma regularidade e naturalidade que antes. Antes, quando olhar para uma folha de papel em branco não era um desafio receado, quando não tinha que me preocupar com a "inspiração", porque se não vinha num dia, vinha no outro.
Pode ser que com um blog recupere essa naturalidade e me sente mais amiúde a fazer aquilo que mais gosto: Escrever.