segunda-feira, 23 de julho de 2007

21 de Julho de 2007









Um McDonald's de despedida no aeroporto, felizes da vida!

15h:
De volta aos comboios de Itàlia, os melhores para dormir. Finalmente estamos aqui, depois de tantos meses a sonhar!! Os exames que ambas tivemos ontem impediram-nos de pensar demasiado na viagem, mas foi sò nos vermos de malas às costas para um sorriso enorme nos preencher. Compram-se duas garrafas de Amendoa Amarga no aeroporto para oferta e reafirma-se o ideal da viagem: a aventura, a loucura, a espontaneidade.
A boa disposiçao e a alegria sao notòrias a cada momento: a apreciar os "chicos" no aeroporto, inclusivé os sòcias, a dar deboche nas freiras, a ter conversas para maiores de 18 no aviao que levam ao maior ataque de riso, a sacar fotos parvas, a cantar Quim Barreiros.
A nossa espera do lado de cà estava a Ste. Que bom voltar a ve-la! Levou-nos até Brescia, onde nos ofereceu o quarto do irmao para dormirmos. A vontade de fiesta era muita, de mandar as garrafas abaixo, mas a realidade de termos entrado de férias hà tao pouco tempo levou-nos a melhor, e, depois de uma sessao de fotos pijama-party, dormimos um super sono.
E agora vamos a caminho de Ferrara, para encontrar a Ale.

17:50h
Voltei a ser gente rude do comboio. Jà tinha saudades desta sensaçao de liberdade total, de ter uma mochila às costas com tudo o que preciso para ser feliz: musica, um bom livro, chanatos para andar e conhecer muito, bikinis para a praia, boa companhia, maquina fotografica para mometos kodak e, claro, um caderno!

sexta-feira, 20 de julho de 2007


Poema que me foi enviado pela Ale, companheira de Erasmus, numa homenagem a todos os que fizeram parte desta experiência. Transcrevo em castelhano por ter sido a língua em que partilhei tantos momentos, tantas experiências, tantos pensamentos, tantos sentimentos, ou simplesmente conversas banais, triviais, indispensáveis.
Para todos os que já fizeram Erasmus, para os que estão a fazer, para os que ainda vão fazer. E para todos os outros também.


¿QUIÉN MUERE?

Muere lentamente quien se transforma en esclavo del hábito,
repitiendo todos los días los mismos trayectos,
quien no cambia de marca, no arriesga vestir un color nuevo
y no le habla a quien no conoce.

Muere lentamente quien hace de la televisión su gurú.
Muere lentamente quien evita una pasión,
quien prefiere el negro sobre blanco
y los puntos sobre las "íes" a un remolino de emociones,
justamente las que rescatan el brillo de los ojos,
sonrisas de los bostezos,
corazones a los tropiezos y sentimientos.

Muere lentamente quien no voltea la mesa cuando está infeliz en el trabajo,
quien no arriesga lo cierto por lo incierto para ir detrás de un sueño,
quien no se permite por lo menos una vez en la vida,
huir de los consejos sensatos.

Muere lentamente quien no viaja,
quien no lee, quien no oye música,
quien no encuentra gracia en si mismo.
Muere lentamente quien destruye su amor propio,
quien no se deja ayudar.
Muere lentamente, quien pasa los días quejándose de su
mala suerte o de la lluvia incesante.

Muere lentamente, quien abandona un proyecto antes de iniciarlo,
no pregunta de un asunto que desconoce
o no respondiendo cuando le indagan sobre algo que sabe.

Evitemos la muerte en suaves cuotas,
recordando siempre que estar vivo exige un esfuerzo
mucho mayor que el simple hecho de respirar.

Solamente la ardiente paciencia hará que conquistemos una espléndida felicidad.


(Pablo Neruda)

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Ericeira

Fomos pela primeira vez há mais de 8 anos, já nem sei precisar bem quando. Éramos quatro. Fomos à praia, andámos de bicicleta, eu e a Carolina corremos na praia para nos aquecermos, enquanto o João e o Chico (que nestes dias tinha que ser Francisco) estavam dentro de água a fazer body-board, fizemos totós ao João, rimos muito, conversámos muito, fizemos as parvoeiras de miúdos.
Passado tanto tempo, voltámos. Desta vez, já mais acompanhados pelos mesmos amigos de antes. Desta vez, já fomos sozinhos, sem precisar da supervisão de pais (se bem que...), já levámos os nossos carros, pagámos as nossas despesas. Desta vez, já fizemos nós o jantar sem o perigo de crianças a mexer no lume. Já fizemos coisas de adultos, como jogar poker a dinheiro ou beber vinho ou falar da faculdade ou fazer piadas de cariz sexual. Mas o ambiente entre amigos continua o mesmo: as gargalhadas de sempre, a confiança de sempre, as brincadeiras de sempre, as boas recordações de tempos idos, as parvoeiras de miúdos que escolhemos continuar a ser.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Tardes de estudo, II

E se for um faz de conta? Uma daquelas histórias escritas por um compositor que dão origem a uma canção com que tantas pessoas se identificam mas que o autor nunca viveu? Ou a fantasia daquele encontro que imaginamos vezes sem conta, planeamos ao pormenor, e quando acontece é totalmente espontâneo? Ou aquela sensação de déja-vu, já vi isto noutra vida, como se o destino nos quisesse dizer algo mas que não passa de um fenómeno físico? E se for só isso?

O cenário não é importante. Ou talvez seja, de certeza que é, mas não tanto quanto se poderia supor. Foi só mais uma desculpa.
Acordou diferente, como se a sua vida tivesse mudado, como se todo o mundo tivesse mudado, só por aquele sonho que lhe dizia
- Conheceste alguém especial, ontem á noite,
alguém em quem quase não tinha reparado, com quem nem teria falado se não estivesse frio.
Não associou. Seguiu a sua vida, ignorando o que lhe era dito. Passaram-se dias, meses, anos, naquela semana. Quando se voltaram a ver nem se apercebeu que foi com ele que sonhara, pouco se lembrava daquela cara, daquela voz. Com o soltar da noite deixou-se conquistar por aquele sorriso lindo e sincero, por aquela mão grande e forte estendida que a salvava de uma vida de enganos, que, lentamente, a puxava para a superfície.
Despediram-se como quem se conhece há anos.

Ele olhou para ela com aqueles olhos que a fazem viajar, com aquele olhar que lhe entra na alma e derruba qualquer defesa, qualquer barreira, que a faria rir á gargalhada ou chorar profundamente se se permitisse, se por uma vez se deixasse ir. Sente que ele a conhece como nunca ninguém a conheceu, que a vê como nunca ninguém a viu.
Fez uma trança no cabelo, como se quisesse pentear para fora de si aqueles pensamentos, mas um
- Linda,
completamente espontâneo, completamente imprevisível, deixou que lhe escapasse pelos olhos tudo o que não queria que ele lesse, não percebendo que ele já tinha lido, ele já sabia muito antes de ela saber.
Despediram-se como quem anseia pelo reencontro.

Decidiu ignorar, afastar-se, ficar longe dele, não se aproximar (eu sei, estou a repetir-me). Mas inconscientemente, despropositadamente, inocentemente, incontrolavelmente, já caminhavam lado a lado, afastados de todos. Ele tocava-lhe só com o respirar e nunca ninguém a tocara assim. Olhavam para o mundo de sorrisos abertos como se tudo o que interessasse naquele momento não fosse encontrado apenas um no outro. Tentavam disfarçar, mais ela que ele. Mexia no cabelo, tentava ocupar as mãos só para, por segundos, se concentrar em mais qualquer coisa que não nele, que não naquele momento. Um momento pelo qual ás vezes se espera uma vida, ali estava, maior do que ela. Não ouvia nada a não ser o coração bater e a respiração dele ali tão próxima. Por vezes tocavam-se, num sem-querer propositado, os braços roçavam, o cabelo dela batia-lhe no ombro. De costas para ele podia sentir, mais forte do que qualquer toque, o olhar dele a percorrer-lhe o corpo, as mãos a contorná-lo afastadas um palmo. Finalmente, um dedo desliza pelo braço dela, ela finge não sentir mas o arrepio que a percorre denuncia-a.
Despediram-se como quem não se quer separar.

Ele procurou os olhos dela quando a ouviu chegar. Ela olha-o como quem já tem toda a certeza num infinito de dúvidas. As mãos tocam-se quando escusado, os corpos aproximam-se mais do que o essencial, os olhares tímidos que trocam falam com toda a frontalidade, já sem o pudor que os lábios insistem em manter. Num repente que demora eternidades o mundo são eles. Não há tempo, nem espaço, nem nada. Escondem-se na liberdade que sentem, procuram-se no que encontraram, encontram-se no que procuravam mesmo sem o procurar. Ele leva-a a sítios que ela ignorava existirem, alguns dentro dela. Fá-la conhecer-se, encontrar-se, assustar-se com esta falta de controlo que nunca tinha sentido antes. Coisas pequenas ganham um significado imenso: o toque dum pé debaixo da mesa, um dar de mãos atrás das costas, escondido, um abraço inesperado, um beijo inesquecível, um convite, uma noite.
Despediram-se.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Deocriste

Nome estranho e desconhecido a todos que não me conhecem muito, muito bem. Bem o suficiente para saber que é a aldeia onde a minha avó nasceu, perto de Viana do Castelo, tendo uma fábrica de papel á entrada que deita sempre um cheiro pestilento que aprendi a gostar por associar a este sítio especial.
Já dormi em todos os quartos: no que sempre foi da minha mãe, tinha antes um papel de parede florido para o qual nunca me fartava de olhar. No que, para todos os efeitos, é do meu tio Tó, mas também da minha avó, onde durmo sempre com a minha irmã e tem guardada toda a minha roupa de bebé ainda recuperável. No que não era bem de ninguém, mas era um bocadinho da minha prima Maria e agora será sempre do tio Juca, onde me lembro de dormir com as minhas duas primas no tempo em cabíamos as três na mesma cama. No que sempre foi da minha tia Guida mas já não é, onde dormi com a minha prima mais nova numa noite em que estava sem os pais, como eu precisava da companhia de alguém para dormir naquela casa distante e familiar ao mesmo tempo quando era pequena. Na sala, que sempre teve sofás-cama, quando a casa ficava cheia de família. Houve até uma tentativa das primas de passar uma noite numa tenda montada no jardim que agora é piscina e onde havia um salgueiro-chorão que me fazia imaginar um labirinto com mil e um cenários, mas a companhia de um quinto habitante (uma centopeia em cima das nossas cabeças) fez-nos gritar e rir ao mesmo tempo enquanto fugíamos da tenda, esquecendo para sempre essa ideia.
Os natais sempre foram especiais. Principalmente na outra casa, aquela mais acima, mais velha, mais assustadora, mais cheia de história(s), com quadros de fotos amareladas de pessoas sisudas que dizem que foram família. A casa onde o chão range a cada passo que se dá, e que o pai-natal nunca esquecia, pondo as prendas todas num cesto preso áquela chaminé enorme, o cesto que subia vazio enquanto os adultos apagavam as luzes e voltava cheio quando as luzes eram acendidas. O porquê de apagarem as luzes só percebi muito mais tarde.
A casa que é uma quinta, tinha vacas, porcos, coelhos, galinhas e dois tanques onde tomei muitos banhos de verão. A casa que tem um terraço com vasos onde crescem morangos óptimos, e onde, numa noite de verão há muito tempo, a família toda dançou a Lambada. Ver a nossa avó e tios-avós dançar a Lambada é uma imagem que nunca se esquece. Daquelas recordações que vamos buscar quando queremos rir á gargalhada.
É uma aldeia que está sempre em festa, ou que nós temos o azar de apanhar sempre no auge. Sim, o azar. Acordar ás 8:30h com foguetes mandados mesmo ao lado de casa e com música portuguesa, popular e de folclore aos berros com altifalante naquele pinheiro gigante que fica mesmo nas traseiras. Durante dias ouvir o Marco Paulo falar da Anita e da Joana, até finalmente admitir que tem dois amores, o Vitor Espadinha vivendo a recordar, as vozes esganiçadas das músicas do Vira (custa arranjar alguém que cante duas notas?), a rainha da noite dos D'Arrasar (ou eram os Excesso?), o medley com algumas das canções da minha infância - tia Anita do Loulé (será a mesma do Marco Paulo? A que não tem namorado e ninguém sabe porquê?), o mar que enrola na areia -, os Da Vinci e a sua música Conquistador, que me fez pular, algumas Mónicas Sintra, alguns Pacos Bandeira, até músicas que falam da mocidade portuguesa, muitos clássicos da música portuguesa.
E voltar ao conforto de Lisboa com todo um repertório de canções para cantarolar.