Estava sol, como em quase todas as manhãs daqueles cinco meses. Tinha deixado os estores mais abertos do que o normal e o sol iluminava o quarto já despido das minhas coisas. Seria a última vez que acordaria naquele quarto rodeado pelo fundo do mar. Sempre quis ter um quarto com o fundo do mar, não podia ter havido melhor altura. A cama já não tinha a minha colcha, a parede já não tinha as minhas fotografias, era só o mesmo quarto a que tinha chegado cinco meses antes. Já deixara de ser meu e estava quase preparado para um próximo ocupante, apenas as duas malas gigantes abertas no chão acusavam a minha presença.
Acordei minutos mais cedo do que pretendia com um telefonema que me prendeu áquela cidade durante mais umas horas, enquanto combinávamos encontrar-nos no aeroporto. Fui, pela última vez, á minha casa-de-banho e tomei o pequeno-almoço, pela última vez, na minha varanda, tão alta, tão privilegiada, enquanto olhava, pela última vez, a minha vista, tentando ser crescida. Chamei um táxi e esperei.
Cheguei ao aeroporto e fui logo fazer o check-in. As malas ultrapassavam o peso, mas como era dia dos namorados o senhor deixou passar. A Ale, a Ste, o Javi e o Mimmo chegaram. Sentámo-nos num café com assuntos triviais, com planos de encontros próximos. Eu era a primeira a deixar aquela cidade e aquelas vidas que tinhamos construído ali, aquelas amizades tão genuínas, tão simples. Falar da minha partida obrigava todos a aceitar que as suas também chegariam. Era tão fácil dizer que iamos manter contacto, que nos iamos ver tantas vezes.
A hora chegou. Em palhaçadas fomos nos carrinhos até onde eles não podiam ir mais. O nó na garganta era grande demais para deixar as lágrimas passarem, mas os nossos olhares não mentiam, estávamos tristes e só enganávamos a tristeza com sorrisos de esperança. Cada passo, enquanto me afastava, era um esforço.
O avião estava quase vazio, tão silencioso. Sentia-me adormecida, baralhada, triste. Deitei-me nos três bancos vazios e dormi. Não olhei pela janela para ver a vista de Lisboa, não queria estar ali. Nem o sol que se fazia sentir por cá ajudava. Não fazia sentido estar aqui. Não fazia sentido estar de volta a casa e sentir-me deslocada. Há poucas horas atrás estava em minha casa e agora nunca mais lá voltaria. Estava de volta, mas em pedaços.
Cheguei ao aeroporto e fui logo fazer o check-in. As malas ultrapassavam o peso, mas como era dia dos namorados o senhor deixou passar. A Ale, a Ste, o Javi e o Mimmo chegaram. Sentámo-nos num café com assuntos triviais, com planos de encontros próximos. Eu era a primeira a deixar aquela cidade e aquelas vidas que tinhamos construído ali, aquelas amizades tão genuínas, tão simples. Falar da minha partida obrigava todos a aceitar que as suas também chegariam. Era tão fácil dizer que iamos manter contacto, que nos iamos ver tantas vezes.
A hora chegou. Em palhaçadas fomos nos carrinhos até onde eles não podiam ir mais. O nó na garganta era grande demais para deixar as lágrimas passarem, mas os nossos olhares não mentiam, estávamos tristes e só enganávamos a tristeza com sorrisos de esperança. Cada passo, enquanto me afastava, era um esforço.
O avião estava quase vazio, tão silencioso. Sentia-me adormecida, baralhada, triste. Deitei-me nos três bancos vazios e dormi. Não olhei pela janela para ver a vista de Lisboa, não queria estar ali. Nem o sol que se fazia sentir por cá ajudava. Não fazia sentido estar aqui. Não fazia sentido estar de volta a casa e sentir-me deslocada. Há poucas horas atrás estava em minha casa e agora nunca mais lá voltaria. Estava de volta, mas em pedaços.
Aos poucos fui-me reconstruindo até ficar mais completa do que antes. Mas por muito triste que seja voltar, vale sempre a pena ir.