quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Lisboa desconhecida

Passear por Lisboa e não ver prédios, nem carros, nem pessoas. Pelo menos a uma distância superior a 10 metros. Passear por uma Lisboa diferente, de noite, com nevoeiro. Com luzes diferentes, sombras diferentes, e lembrar-me do que esta cidade é para mim. Já não me deslumbrava com Ela há tanto tempo. Já não me surpreendia há tanto tempo. Habituei-me a Ela, aos seus prédios, seus carros, suas estradas. Mas de noite, com nevoeiro, foi uma Lisboa diferente.
Passar pelo Rossio e parecer uma praça deserta, habitada unicamente por aquelas esculturas iluminadas por uma luz que corta a neblina. Aquelas esculturas que vi quase há um ano atrás na outra ponta da Península Ibérica, agora estão aqui e tornam-se Lisboa. São tudo o que o nevoeiro permite ver. E o que é Lisboa, deixa de o ser, o Rossio não é o Rossio, é só um sítio por onde passei nesta noite sem lugares conhecidos. São só as estátuas que me fizeram recordar outra cidade, outro mundo, outro tempo.
Chegar aos Restauradores com uma luz cor-de-laranja, uma mistura do amarelo dos candeeiros de rua e das luzes vermelhas dos carros, que permite ver apenas os edifícios imponentes. E subir a Av. da Liverdade rodeada por árvores despidas, num cenário tirado dum filme de terror antigo. No cimo, um Marquês que não sei se lá está ou se decidiu ir passear por esta cidade desconhecida.
Imaginar que tudo mudou, percorrer as mesmas ruas de sempre, mas com a dúvida de que se mantêm onde estavam nessa manhã ou se o nevoeiro deixou que as ruas mudassem de lugar, brincassem ás escondidas com os condutores, fossem namorar para outras colinas. Não saber se no local da Praça de Espanha não está a Praça de Londres, ou qualquer outra cidade ou país. Lisboa envergonhou-se, escondeu as suas vergonhas e só deixou aparecer a sua luz.