domingo, 25 de fevereiro de 2007

Terceiro Destino: NOVA IORQUE!!






Passavam horas a andar a pé em Nova Iorque: como se seguissem por um caminho sinuoso numa paisagem montanhosa e fascinante, o espectáculo alterava-se a cada passo: no meio do passeio, havia um rapaz ajoelhado a rezar; a dois passos dele, encostada a uma árvore, uma negra belíssima passava pelo sono; um homem de fato preto atravessava a rua a gesticular como se dirigisse uma orquestra invisível; a água caía nas bacias de um fontanário; mesmo ao lado, estavam uns operários sentados a almoçar. Escadarias metálicas trepavam pelas fachadas das casas de tijolo encarnado, casas que, de tão feias, até chegavam a parecer bonitas; mesmo ao lado, erguia-se um gigantesco arranha-céus de vidro por detrás do qual havia outro arranha-céus que culminava num palaciozinho árabe com torres, galerias e colunas douradas.



Milan Kundera, A Insustentável Leveza do Ser.




A foto não é nada representativa da cidade, mas é das melhores em grupo, e os momentos dependem sempre da companhia. Nova Iorque.. um jardim de arranha-céus. Por muitas imagens que se vejam ou muitas descrições que se oiçam, a cidade acaba sempre por nos deslumbrar. É única, com os seus prédios sem fim, com as limusines que estão sempre a passar, com os milhares de taxis, com as pessoas apressadas, com os carrinhos de hot-dogs e de Nuts4Nuts, com o ruído dos carros de bombeiros e ambulâncias que passam constantemente, com as igrejas góticas no meio do mundo de cimento... A melhor palavra para descrever Nova Iorque é "variedade". Variedade de pessoas, variedade de situações, variedade de estilos. A sua heterogeneidade é o que a torna única, a mistura entre o novo e o velho, entre o pequeno e o enorme, entre a luz e o escuro. Adorei.
As temperaturas negativas gelavam-nos a ponta do nariz enquanto calcorreávamos Manhattan de cima a baixo, percorrendo a 5th Avenue ou a Broadway, ou outra avenida gigante e linda. Subimos ao Empire State Building, fomos patinar no Central Park, comemos uma pizza em Little Italy, bebemos chocolate quente no Starbucks, comemos Wendy's, Taco Bell, cachorros quentes na rua e McDonald's, encomendámos chinês para comer em casa das caixinhas (sim, as refeições eram sempre momentos importantes), passeámos por Times Square á noite, iluminadas pelas centenas de anúncios, fizemos muitas compras, fizemos tudo o que queriamos fazer! E rimos muito.
Agora resta-me pensar no próximo destino.



sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Lisbon revisited (2007)

Nada me prende a nada.
Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angústia de fome de carne
O que não sei que seja -
Definidamente pelo indefinido...
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.

Fecharam-me todas as portas abstratas e necessárias.
Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua.
Não há na travessa achada o número da porta que me deram.

Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta - até essa vida...

Compreendo a intervalos desconexos;
Escrevo por lapsos de cansaço;
E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia.
Não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme;
Não sei que ilhas do sul impossível aguardam-me naufrago;
ou que palmares de literatura me darão ao menos um verso.

Não, não sei isto, nem outra coisa, nem coisa nenhuma...
E, no fundo do meu espírito, onde sonho o que sonhei,
Nos campos últimos da alma, onde memoro sem causa
(E o passado é uma névoa natural de lágrimas falsas),
Nas estradas e atalhos das florestas longínquas
Onde supus o meu ser,
Fogem desmantelados, últimos restos
Da ilusão final,
Os meus exércitos sonhados, derrotados sem ter sido,
As minhas cortes por existir, esfaceladas em Deus.

Outra vez te revejo,
Cidade da minha infância pavorosamente perdida...
Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui...

Eu? Mas sou eu o mesmo que aqui vivi, e aqui voltei,
E aqui tornei a voltar, e a voltar.
E aqui de novo tornei a voltar?
Ou somos todos os Eu que estive aqui ou estiveram,
Uma série de contas-entes ligados por um fio-memória,
Uma série de sonhos de mim de alguém de fora de mim?

Outra vez te revejo,
Com o coração mais longínquo, a alma menos minha.

Outra vez te revejo - Lisboa e Tejo e tudo -,
Transeunte inútil de ti e de mim,
Estrangeiro aqui como em toda a parte,
Casual na vida como na alma,
Fantasma a errar em salas de recordações,
Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem
No castelo maldito de ter que viver...

Outra vez te revejo,
Sombra que passa através das sombras, e brilha
Um momento a uma luz fúnebre desconhecida,
E entra na noite como um rastro de barco se perde
Na água que deixa de se ouvir...

Outra vez te revejo,
Mas, ai, a mim não me revejo!
Partiu-se o espelho mágico em que me revia idêntico,
E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim -
Um bocado de ti e de mim!...

Álvaro de Campos


Ás vezes as palavras que sentimos já foram ditas por alguém.
Voltei a casa, voltei á minha vida. Mas sinto-me em fragmentos. Não sei que partes de mim voltaram, que partes de mim ficaram, que partes de mim ficaram perdidas para sempre. Tento reencontrar-me pelas ruas de Lisboa, mas já não a sinto minha, assim como já não me sinto eu. Cada momento é passado em reconstrução, tentando unir pedaços de mim que agora tenho disponiveis, mas desconheço-me. Em cinco meses criei outra vida, que sinto mais minha que esta. Ou talvez só tenha que aprender a unir-las.

domingo, 11 de fevereiro de 2007











Obrigada.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Uma semana..

Hoje é a minha última Quarta-feira em Barcelona. Daqui a uma semana, por esta hora, estou de volta a Lisboa, com tudo o que isso significa. Por vezes quase que prefiro ficar fechada em casa e não estar com ninguém, porque quando estou não consigo deixar de pensar em como vou perder tantos momentos, em como me sinto bem aqui.
Quarta-feira. Pode parecer um dia normal, e nem é dos preferidos da maioria das pessoas, mas aqui, muitas semanas, marcava o início do meu fim-de-semana: Festas Erasmus, no Baja Beach Club; jantares coreanos; Shôko; Teatro; jantares em Collblanc.

Para não quebrar a tradição: hoje, Shôko!

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Escrevo o mundo no meu corpo


Exigências dos meus pais para Erasmus:

  • não te drogues
  • não bebas muito
  • não faças asneiras
  • não faças piercings
  • Não faças tatuagens.....

Ups.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Em Barcelona, gosto...

  • dos meus amigos,
  • da vista do meu 18º andar,
  • de me sentir em casa,
  • de ir a pé até à Sagrada Família, passando pela Avinguda Gaudi e seguir pela Carrer Provença até ao Passeig de Gracia,
  • de passear perto do meu piso até á Carrer Verdi,
  • de passear,
  • dos jantares em Collblanc,
  • das festas em Collblanc,
  • dos dias de sol (quase todos),
  • de me sentar na varanda a apanhar sol,
  • do caminho do Metro até casa, de madrugada, a ouvir música e a cantar e dançar para aquecer do frio,
  • de passar por um BUS turístico e pensar que já penso nesta cidade como uma turista,
  • dos convites inesperados,
  • que seja tao sincera,
  • de cozinhar pesto uma vez por semana,
  • da "Boulevard" Passeig de Gracia,
  • da minha casa, do meu quarto, da minha casa-de-banho,
  • das bebedeiras,
  • dos jantares fora, quase sempre sushi,
  • dos programas diferentes, como ir a um concerto ou ao teatro,
  • das viagens de Domingo,
  • das pessoas ficarem amigas num dia, numa hora,
  • de conhecer pessoas de cada canto do mundo,
  • de tudo o que aprendi, sendo a minoria conhecimento académico,
  • de ir para casa de NitBUS e ver o sossego nocturno da cidade,
  • das viagens que fiz no comboio para o aeroporto,
  • de querer ficar para sempre,
  • das gargalhadas, sempre sinceras,
  • dos olhares cúmplices,
  • de ouvir o vento deitada na minha cama,
  • de me saber tao diferente da pessoa que era quando vim,
  • de aprender pratos novos, a maioria pasta,
  • de tantas vezes ser só eu e italianos e eles falarem castelhano,
  • de nao me sentir uma estudante Erasmus porque tudo isto me parece natural,
  • da fascina. Ou do final dela,
  • que seja tao variada,
  • de saber que Domingo vou acordar com o barulho da claque do Club Esportiu Europa,
  • das noites passadas com amigos "perdidos pelas Ramblas",
  • de quase tudo,
  • que haja uma música sobre ela, com a qual me identifico tanto,
  • de morar perto do centro,
  • de me lembrar sempre de mais qualquer coisa que gosto,
  • de ver a torre Agbar a mudar as cores,
  • dos meus amigos,
  • do meu chá verde diário, normalmente acompanhado por um bocado de chocolate,
  • das noites de chicas,
  • de estar aqui.