segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Insónias

Ela acordou com o barulho dos actos a cair-lhe em cima. Ou era só alguém a montar qualquer coisa a horas vergonhosas da manhã e que lhe martelava a consciência. Teve medo de virar-se na cama e ser verdade, mas aquele calor que não era o seu não a deixava iludir-se.
Queria enroscar-se, pedir-lhe
- "Fica.",
imaginar que tinha outra história, outra vida. Mas estavam demasiado presentes as palavras da noite anterior
- "Podia apaixonar-me por ti..."
- "E se for só...?
- "O que é que tem?",
enquanto punha os braços á volta dela para adormecer.
Aquele à-vontade era tão incaracterístico nela, porém aquele estranho conhecia-a melhor do que ela queria admitir, e esforçava-se por sentir alguma culpa, algum remorso. Nada. Só aqueles olhos dum estranho tão familiares, tão compreensivos, porque a conhecia tão bem e sabia o que se passava dentro dela. Ou não. Olhava-a profundo demais, para cantos de si que ela ignorava, negligenciava. Confiava nele, queria contar-lhe todos os seus segredos e planos e sonhos. Sabia que nunca mais seria a mesma, não depois de alguém tão absoluto ter cruzado o seu caminho. Sentia-se privilegiada. Havia um canto do seu mundo que seria sempre daqueles momentos, daquelas emoções, daquela pessoa. Não havia um caminho de volta, estava num lugar completamente diferente. Em instantes aquela pessoa tinha-a mudado mais do que qualquer outra.
Não procurou que acontecesse. Também não evitou. Limitou-se a aceitar como inevitável, algo contra o qual não tinha armas para lutar, não tinha forças. Era maior do que ela. Sentia-se num mundo novo. Procurava em si um sinal de surpresa, de arrependimento. Forçava-se por o sentir, por ser a mesma de há tão pouco tempo atrás. Porém, sentia-se mais ela própria do que se sentiu durante anos. Sentia-se viva, multidimensional, livre. Livre.














We'll both forget the breeze.
Most of the time...

2 comentários:

Rp disse...

Excelente amiga, tens é que escrever mais senão sabe a pouco =P
Essa misica também é qualquer coisa de espectacular...
Beijinhos!!

Anónimo disse...

Esta história tem realmente um misto de alegria e tristeza! Fico sem perceber porque é que uma coisa que começa aparentemente tão mal pode levar a um sentimento de tanta dimensão como o de liberdade? "Ela" ficou feliz? e ele?